quarta-feira, 26 de setembro de 2018

As tentativas para separar a região do Cariri do Ceará
     As alegativas (para a criação da “Província” e/ou “Estado” do Cariri) sempre foram mais ou menos as mesmas: a de que a região sul-cearense possuía progresso econômico e civilizatório, mas não recebia o apoio necessário vindo do governo sediado em Fortaleza, o qual relegava ao abandono o Cariri. 
     A primeira tentativa de independência do Cariri foi em 1828. A Câmara de Vereadores do Crato encaminhou representação ao Governo Imperial mostrando a oportunidade de criação da nova Província do Cariri Novo. A ideia voltou à tona, em 14 de agosto de 1839, quando o senador José Martiniano de Alencar, do Partido Liberal, apresentou, no Senado do Império do Brasil, um projeto de lei, cujo artigo 1º dizia textualmente: "Fica criada uma nova Província que se denominará Província do Cariri Novo, cuja capital será a Vila do Crato".
     Anos depois, através do jornal "Diário do Rio de Janeiro", voltava o senador Martiniano de Alencar a defender sua ideia de criação da Província do Cariri. Em 1846 a proposta foi reapresentada pela Assembleia Legislativa da Província do Ceará e retomada no decênio de 1850 pelo jornal “O Araripe”, editado em Crato. No século XX a reivindicação ganhou fôlego nos anos de 1905, pelas páginas do jornal “Sul do Ceará”. A última tentativa foi em 1957, quando se criou um Comitê Central Pró Estado do Cariri. Todas essas tentativas ficaram só no sonho. Hoje é impraticável se pensar em iniciativas separatistas como as mencionadas acima.

Como era o Cariri nos tempos do Brasil-Colônia?
       Ainda hoje, muitas pessoas  -- que se julga bem informadas --, não sabem distinguir a diferença entre os tempos do “Brasil-Colonial” (quando pertencíamos a Portugal) para os tempos do “Brasil-Império” (quando o Brasil se tornou uma nação independente com dimensão continental). É comum, quando se fala da monarquia brasileira, até mesmo professores (que têm obrigação de distinguir essas duas fases) afirmarem: “Na monarquia, os portugueses levavam nossas riquezas para a metrópole”. Ora, a transferência dos produtos brasileiros para Portugal ocorreu somente na época do “Brasil-Colônia” (e mesmo assim somente até a chegada da Família Real, em 1808). Essas transferências não ocorreram no “Brasil-Imperial”, país soberano e respeitado no concerto das nações a partir de 1822.
       Como era o Cariri no “Brasil-Colônia”? Distante mais de 600 km do litoral, carente de comunicação com os centros mais adiantados do Brasil, no Cariri cearense foi plasmada uma cultura própria, herança portuguesa, sob forte influência da Igreja Católica. Em algumas vilas e localidades caririenses, as companhias de penitentes se flagelavam, à noite, em frente das igrejas e dos cemitérios. O centro gravitacional das populações daqueles remotos tempos girava em torno da aristocracia rural, semelhante ao um feudo medieval!
       O proprietário rural atuava quase sempre como um poder moderador nos conflitos naturais da convivência humana. E a relação “patrão-empregados” era feita na base do compadrio. O proprietário rural era visto mais como um amigo (a quem se podia recorrer nas dificuldades) sendo impensável, naquele tempo, a versão – ainda hoje pregada nas universidades públicas – de “classe dominante”. 

O Cariri foi uma herança da mentalidade medieval
Crato em 1859, aquarela de José dos Reis Carvalho

     A região do Cariri foi, no início do seu povoamento, um resquício da civilização medieval, lembrando a que existiu na Europa, guardadas, é claro, as diferenças das realidades entre o velho e o novo mundo. Quando a decadência dos princípios basilares da Idade Média teve início no velho continente europeu, por volta do século XV, este processo de descristianização não foi implantado na Europa com rapidez. Nem atingiu todas as nações europeias com a mesma intensidade. Fácil compreender por que isso ocorreu.  Naquele tempo, não existiam os meios de comunicação, que temos hoje. As notícias e os acontecimentos levavam tempo para chegar aos países periféricos da Europa, e às pequenas vilas e povoados destes.
       Portugal, o mais ocidental dos países europeus, situado às margens do Oceano Atlântico, foi o último a sofrer as consequências da decadência daquele apogeu que caracterizou o sistema econômico, político e social, conhecido por “feudalismo”. Em Portugal, as consequências da  debacle desse sistema (que começou a se estruturar na Europa, ao final do Império Romano do Ocidente – século V – e atingiu seu apogeu no século X, só desaparecendo praticamente no final do século XV) chegaram às terras lusitanas com relativo atraso.

Mentalidade transferida para o Brasil nos albores do povoamento
      Ora, no início do século XVI, quando os portugueses aportavam no Brasil, ainda traziam para este Novo Mundo, boa parte da mentalidade medieval, no que diz respeito aos princípios de uma sociedade orgânica, isenta das “novidades” que a Idade Moderna já introduzira, por exemplo, na França, na Alemanha e outros países mais influentes do continente europeu.
        Chegando ao Nordeste brasileiro, a mentalidade da sociedade católica, aqui plasmada pelas boas famílias portuguesas que para cá se transportaram – os chamados “fidalgos” – conservou muitos princípios da mentalidade medieval. E isso aconteceu devido, principalmente, à grande distância e à falta de comunicação entre esta parte do Brasil e a já revolucionária Europa.

Mentalidade que chegou ao Brasil-Imperial  
Verdadeiro rosto do Imperador Dom Pedro I,
revelado graças à reconstituição facial feita
recentemente, sob os auspícios do Prof. José Luís Lira
- Crédito: Cícero Moraes
   No século 19, a maior parte dos trabalhadores dos engenhos caririenses era composta de homens livres, os chamados “agregados da família”.  E mesmo os escravos negros (pouco numerosos no Cariri), consoante a tradição, não sofriam – salvas as exceções – a opressão e a impiedade, que levavam seus irmãos de cor a gemer nos cativeiros de outras províncias brasileiras, especialmente as exportadoras de produtos agrícolas (São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, dentre outras). Talvez isso ocorresse no Cariri, porque não havia nesta região uma elite econômica ávida por lucros, voltada para a exportação da sua produção, como a existente nas províncias acima citadas. O escravo no Cariri, com raras exceções, era quase gente da família. Esses negros compartilhavam dentro da sua humildade e sujeição os acontecimentos alegres e tristes dos seus senhores.


Crato vai comemorar o centenário do Prof. José do Vale
    José do Vale Arraes Feitosa nasceu na fazenda Canabrava, em Aiuaba, sertão dos Inhamuns, em 11 de abril de 1919. Adolescente veio estudar no Seminário São José de Crato, e desta cidade nunca mais saiu.
    Vocacionado para o magistério foi professor em Crato durante 42 anos. Foi vice-diretor do Colégio Diocesano de Crato de 1947 a 1969; professor e co-fundador do Colégio Estadual Wilson Gonçalves, do Colégio Agrícola Federal e do Ginásio Municipal Pedro Felício, todos da cidade de Crato. Em 1968, formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia do Crato, habilitando-se a ministrar as disciplinas: Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Francês e Literatura da Língua Francesa. Especializou-se em Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Língua Nacional.
    Casou, muito jovem, com Maria Gisélia Pinheiro, com quem teve seis filhos. Em 1965 ficou viúvo. Em 1968 contraiu novo matrimônio com a professora Maria do Carmo Feitosa, sua parente. Desta união nasceram dois filhos. Era fluente orador. Foi um dos fundadores do Instituto Genealógico do Cariri. Recebeu o título de “Cidadão Cratense” e era sócio do Instituto Cultural do Cariri. Faleceu em 19 de outubro de 1997.
     Em 2019, no dia 11 de abril, a comunidade cratense vai comemorar o centenário de nascimento de um homem de bem, na verdadeira acepção da palavra. Um grande mestre, humano, afável, uma pessoa, simples, culta e de bom coração.

História: Um herói chamado Tristão
Bandeira da Confederação do Equador de 1824
     Muita gente ainda confunde a “Revolução Pernambucana de 1817” com a “Confederação do Equador”. Foram dois movimentos revolucionários distintos. Em 1824, eclodiu nova revolução republicana em Pernambuco denominada "Confederação do Equador". Este movimento uniu algumas lideranças das províncias de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, descontentes com a Constituição outorgada pelo primeiro imperador brasileiro, Dom Pedro I. O movimento repercutiu intensamente no Crato. Tristão Gonçalves de Alencar Araripe aderiu, com todo entusiasmo e idealismo, à Confederação do Equador. Em 26 de agosto daquele ano, foi ele aclamado pelos rebeldes republicanos como Presidente do Ceará. Entretanto a reação do Governo Imperial foi implacável. As instruções para debelar o movimento eram assim sintetizadas: "(...) não admitir concessão ou capitulação, pois a rebeldes não se deve dar quartel". Debelado o movimento restou a Tristão Araripe duas alternativas: exilar-se no exterior ou morrer lutando. Escolheu a última opção.
      Nas suas pelejas, Tristão colecionou vários inimigos. Dentre eles um rancoroso proprietário rural, José Leão da Cunha Pereira. Este utilizou um seu capanga, Venceslau Alves de Almeida, para pôr fim à vida do herói da Confederação do Equador no Ceará. Tristão Araripe faleceu, em 31 de outubro de 1825, combatendo o grupo armado de José Leão, na localidade de Santa Rosa, hoje inundada pelas águas do Açude Castanhão. Morreu como queria: pelejando, graças a Deus!



quarta-feira, 19 de setembro de 2018

    A força eleitoral do Cariri 
      Nos dias atuais, compõe a região do Cariri 29 municípios. Contam eles com mais de 711 mil eleitores aptos a votar nestas eleições de 2018, a se realizarem em 7 de outubro próximo. Desses eleitores, 295.301 (mais de 41%), residem na conurbação Crajubar (Crato, Juazeiro e Barbalha. Só Juazeiro do Norte tem mais de 160 mil eleitores). E imaginar que, com toda essa força – devido as esdrúxulas leis eleitorais em vigor –  o Cariri não tem um único deputado federal nos dias de hoje. 
    Se tivéssemos voto distrital o Cariri formaria, com certeza, um distrito eleitoral, como foi na época do Brasil Império. Nada justifica que uma região tão importante e tão povoada seja desprovida de um deputado que represente mais de 1 milhão de habitantes.

O Cariri no tempo da monarquia
    Um assunto puxa outro. Pouca gente se dá conta disso. Durante os 518 anos de sua história, o Brasil (do descobrimento em 1500, aos dias atuais), viveu 389 anos da sua existência sob a forma de governo monárquica (entre 1500 a 1889). Ou seja, durante 75% da sua existência o Brasil nunca foi a república, que é hoje. Tanto tempo de monarquia deixou marcas que não se apagam facilmente. Isso nos remete a uma pergunta pertinente: Como era o Cariri durante os quase 200 anos (de 1700 a 1889), quando nossa pátria viveu sob o regime da monarquia?

Cariri real, Cariri verdadeiro
      Foi significante a presença do Cariri na época da monarquia. Basta lembrar que, em 1847, o engenheiro cratense Marcos de Macedo, deputado pela Província do Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de transpor as águas do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, a fim de amenizar os problemas gerados pela seca nordestina. Naquele tempo a ideia não foi concretizada porque a engenharia não tinha condições de realizar uma obra daquele porte. Basta dizer que a dinamite sequer tinha sido inventada.
      À época da monarquia, a sociedade caririense, diferente dos dias atuais, cultivava os valores morais e éticos, como o respeito à família, à propriedade privada e à Igreja Católica.  Dom Pedro II criou, em 1859,  uma Comissão Científica de Exploração (que os cariocas apelidaram de “Comissão das Borboletas”), composta por renomados especialistas,  destinada à investigação  científica, que realizou pesquisas  nas áreas de botânica, geologia, mineralogia, zoologia, astronomia, geografia e etnografia, no Ceará e na região do Cariri.
         Renato Braga assim escreveu sobre a Comissão científica: “Os viajantes foram bem acolhidos no Crato e demais localidades do Cariri. A todos (cratenses) causou estranheza, para não dizer espanto, a simplicidade de maneiras dos “doutores” a contrastar com a arrogância dos donos de engenho e autoridades (de Crato).

A mentalidade dos súditos caririenses
       O Prof. José Denizard Macedo de Alcântara (foto ao lado), erudito e douto cratense, dá o arremate sobre a mentalidade monarquista que imperava no Cariri. Escreveu ele (na apresentação do livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de Joaquim Dias da Rocha Filho):
       “Um bom entendimento dos fatos exige que se considere a realidade histórica, sem paixões nem preconceitos. A sociedade brasileira (e consequentemente a sociedade caririense) plasmou-se à sombra da monarquia, com todo o seu cortejo de princípios, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover das populações esta herança cultural, tão profundamente enraizada no tempo; daí o apego (do povo) aos Soberanos, a aversão às manobras revolucionárias que violentavam suas tradições éticas e políticas”
       “Ora, dentre os dados da evolução histórica brasileira há que se ter em conta o seguinte: O centro de gravidade desta sociedade (aqui incluída a sociedade caririense), eminentemente rural, era sua aristocracia territorial, única força social de peso na estrutura nacional, repartida em clãs familiares, e profundamente adita ao Rei, de quem recebia posições públicas e milicianas, além de outras benesses, sentimento este que mais se avolumara com a transmigração da Família Real, em 1808 (de Portugal para o Brasil), pelo contato mais imediato com a Coroa, bem como pelos benefícios prestados ao Brasil, no Governo do Príncipe Regente Dom João VI”.

Como surgiu o Museu de Paleontologia
   O Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri está situado na cidade de Santana do Cariri e funciona como núcleo de pesquisa e extensão daquela universidade.
    Para tanto, dispõe de centro de pesquisa com laboratório, biblioteca e videoteca. Segundo seu criador – o Prof. Plácido Cidade Nuvens – a ideia de viabilizar esse museu nasceu no âmbito da programação das festividades do centenário do município de Santana do Cariri, em 1985.
    Exercendo o cargo de Prefeito, Plácido Cidade Nuvens enviou à Câmara Municipal mensagem com projeto de lei, a qual, depois de aprovada virou a Lei nº 197/85. Em 1991, o museu foi entregue à Universidade Regional do Cariri que, desde então, o administra e é responsável pela evolução e ampliação de suas instalações. O Museu de Paleontologia de Santana do Cariri – além de atração turística – é conhecido hoje em todo o Brasil.

Lendas e Mitos do Cariri 
Fundação Casa Grande de Nova Olinda

    Existe na cidade de Nova Olinda uma ONG denominada Fundação Casa Grande–Memorial Homem-Cariri. Criada em 1992, a partir da restauração da Casa Grande da Fazenda Tapera, esta construída em 1717, no lugar da aldeia dos índios Cariús-Cariris, onde hoje se ergue a cidade de Nova Olinda. 
    A Fundação Casa Grande faz um trabalho de preservação das lendas e mitos que contam a história do Homem-Cariri. Tornou-se, assim, uma escola de gestão cultural que tem como missão educar crianças e jovens através dos programas de Memória, Comunicação, Artes e Turismo. Os mitos, segundo Alemberg Quindins, fundador e presidente da Fundação Casa Grande são narrativas que possuem componente simbólico. Persiste no imaginário das camadas mais simples da população caririense, como acontecia com os povos da antiguidade.

Uma lenda que sobrevive: A Pedra da Batateira
 A nascente da Pedra da Batateira

    Na cidade de Crato, até décadas atrás, a população simples divulgava uma lenda: a de que os índios Cariris, aprisionados e escorraçados pelo povoador branco, haviam “encantado” (tapado) com uma gigantesca pedra, a grande nascente existente no sopé da Chapada do Araripe. Essa “Pedra da Batateira” (assim era chamada) continuou a barrar os milhões de litros de água daquela nascente, represando-as no subsolo. Mas um dia essa pedra não resistiria a força das águas represadas, cederia e inundaria o Crato inteiro e parte do vale do Cariri. Essa lenda era um terror para as crianças no início do século passado. Interessante que esse mito ainda persiste (com menor intensidade) mas, algumas pessoas residentes nos sítios ainda se recusam a morar na cidade de Crato, temendo a vingança da Pedra da Batateira...

Um homem importante para o progresso do Cariri: Dom Quintino
     Embora, nascido no sertão central do Ceará, o jovem Pe. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva chegou ao Cariri tão logo foi ordenado sacerdote, em 19 de junho de 1887. E daqui nunca mais saiu. Inicialmente se fixou no distrito de Jamacaru (município de Missão Velha). Em 1889 foi nomeado Vigário de Crato. Nesta cidade permaneceu durante 40 anos, até sua morte em 29 de dezembro de 1929.
     Em 10 de março de 1915 foi nomeado primeiro bispo da nova Diocese de Crato, tomando posse em 1º de janeiro de 1916. Deu prioridade, no seu episcopado às causas espirituais. Foi, no entanto, o homem das grandes realizações materiais que modificaram o cenário social e econômico do Cariri.
     Fundou, em 1822, o Seminário Episcopal de Crato, tornando-se o pioneiro do ensino superior no interior do Ceará. Criou, em Crato, os Colégio Diocesano e o Santa Teresa de Jesus. Fundou, em 1921, a primeira instituição de crédito do Sul do Ceará, o Banco do Cariri, que prestou grandes benefícios ao comércio e à lavoura da região. Criou no seu episcopado 5 paróquias, entre elas a de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Norte.
       A melhor biografia sobre Dom Quintino continua senda a escrita pelo Pe. Azarias Sobreira (“O primeiro Bispo de Crato”), onde destacou as virtudes morais, o espírito de pobreza e a coragem pessoal que ornavam a personalidade do ilustre prelado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

 A primeira romaria feita a Juazeiro do Norte
      Capela de Nossa Senhora das Dores, da povoação de Joaseiro, onde em 1889 ocorreu o fenômeno do sangue na boca da Beata Maria de Araújo
     Em 6 de março de 1889, ocorreu um fato inusitado. Uma hóstia consagrada, dada em comunhão (pelo Pe.Cícero) à Maria de Araújo, transformou-se  em sangue na boca da Beata. A notícia correu – como um rastilho de pólvora – pelo interior nordestino.   Quatro meses depois do acontecido – num domingo, 7 de julho daquele ano –  aconteceu a primeira romaria feita a Juazeiro do Norte. Ela foi planejada e partiu de... Crato!
     Milhares de cratenses, sob a orientação do Mons. Francisco Rodrigues Monteiro, seguiram a pé de Crato até à “povoação do Joaseiro”.
   Amália Xavier de Oliveira, no seu livro “O Padre Cícero que eu conheci” descreveu aquela romaria. A conferir. “Do púlpito da Capela e Nossa Senhora das Dores de Juazeiro, povoação de Crato, (Mons. Monteiro) divulgou, oficialmente, perante mais de 3 mil pessoas os fatos extraordinários que se passavam ali, afirmando aos presentes, que o sangue verificado por todos, naquelas toalhas por ele apresentadas, era o próprio sangue de Jesus Cristo, arrancando dos presentes, copiosas lágrimas” E acrescentou:  "Se um dia eu negar o que vi que me falte e a luz dos olhos”.
    Anos depois, Mons. Monteiro, pressionado pelo Bispo do Ceará, Dom Joaquim Vieira, voltou atrás naquelas suas palavras, proferidas em Juazeiro. Amália Xavier de Oliveira concluiu assim seu escrito: “Mas, sem a luz dos seus olhos (Mons. Monteiro tinha cegado devido à catarata), veio ele muitas vezes a Juazeiro onde passava semanas e mais semanas, hóspede do Pe. Cícero, em casa da sua irmã Angélica, sob os cuidados de Giluca, uma Beata da família Pinheiro Monteiro que ali residia”.

Onde anda o “Projeto do Cariri”?
     Iniciado em 2002, o “Projeto Cariri” é fruto de um “Termo de Cooperação Técnica e Cientifica”, celebrado entre o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a URCA (Universidade Regional do Cariri). 
       Seu principal objetivo é a realização de estudos e registros do patrimônio imaterial do Cariri. O “Projeto Cariri” previa a implantação, em Juazeiro do Norte, do “Roteiro da Fé” (no percurso Basílica Menor de N.S. das Dores/Capela do Socorro/Colina do Horto/Santo Sepulcro). Previa, também, a divulgação das formas de Expressão, Saberes e Fazeres do Cariri, com destaque para a Festa do Pau da Bandeira de Barbalha; as tradições populares (bandas cabaçais, grupos folclóricos, escultores e santeiros de Juazeiro do Norte); a divulgação do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, dentre outras metas.
    No tempo em que o Prof. André Herzog foi reitor da URCA existia até um escritório do “Projeto Cariri” nas dependências daquela universidade. Depois do término da administração de André de Herzog, nunca mais se ouviu falar no “Projeto Cariri”. Será que ainda existe?

Uma preciosidade da riqueza do patrimônio histórico-religioso do Cariri
     Imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, venerada em Juazeiro do Norte a partir de 1827, ano de inauguração da capelinha construída pelo Brigadeiro Leandro
     Adquirida em Portugal, pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, a pequena imagem de Nossa Senhora das Dores foi venerada na capela primitiva da Fazenda Tabuleiro Grande, a partir de 1827. Tornou-se, desde aquela data, a Rainha e Padroeira da povoação do “Joaseiro”. A imagem primitiva (chamada antigamente pelo povo de “Carita”), recebeu a devoção dos juazeirenses durante 60 anos. Zélia Pinheiro, autora do opúsculo "Sesquicentenário de Fé", registra que a imagenzinha pontificou no altar das duas capelas de Juazeiro até 1887. Bom lembrar que em 19 de agosto de 1884, foi consagrada a nova capela, ampla e bonita – construída Pelo Padre Cícero –  que substituiu a primitiva, esta edificada pelo Brigadeiro Leandro. 
     Assim escreveu Zélia Pinheiro: (Até 1887) “Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores (a “Carita”) e fora colocada no Altar (da nova igreja) a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887. Naquele ano, a imagem antiga foi trocada pela nova, adquirida na França, que até hoje está lá”.
        A imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, que tem 191 anos, ainda existe,  em perfeito estado de conservação.

Escritores do Cariri: Padre Azarias Sobreira
      Azarias Sobreira Lobo nasceu no dia 24 de março de 1894, no então Sítio Timbaúba (hoje um bairro citadino) em Juazeiro do Norte. Nasceu no mesmo dia em que seu padrinho de batismo –  Padre Cícero Romão Batista –  completava 50 anos de idade. Era filho de um cratense – Pedro Lobo de Menezes, descendente do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro – e da professora juazeirense Carolina Sobreira. 
    Desde criança pensava em ser sacerdote. Ele foi o primeiro juazeirense a ser ordenado padre na então mais nova Diocese do Ceará, a de Crato, com 22 anos de idade, em 22 de abril de 1917.
    Pe. Azaria foi um exemplar sacerdote. Muito culto, era filósofo, educador, professor e escritor. Dedicou-se, especialmente, ao trabalho de ampla pesquisa e profunda análise sobre o Padre Cícero. Próximo da sua morte, escreveu: “Se, neste meu ablativo de vida, me perguntasse qual a marca que me parece mais saliente em meu espírito, eu não teria medo em responder: uma inata tendência para admirar. Não propriamente os que fizeram fortuna ou conseguiram altas posições sociais, e sim os que se impuseram pela coragem das convicções, pelo domínio de seus apetites desordenados, pela compaixão para com os injustiçados e oprimidos. ”
    Escreveu e publicou dezenas de trabalhos, artigos e alguns livros. Dentre suas obras podemos destacar os seguintes livros: "O Primeiro Bispo do Crato–Dom Quintino", "Tipos e Sugestões", "Monsenhor Tabosa, Apóstolo do Ceará", "Mensagem aos Protestantes", "Minha Árvore de Família", "Zuca Sampaio, um sertanejo de escol", "José Marrocos– Em Defesa de Um Abolicionista", "Uma Flor do Clero Cearense", "Enigma de Ontem e de Hoje", "Pontos de Português", "Sacerdote Modelo" e "O Patriarca de Juazeiro", sua obra-prima, publicada em 1969. Faleceu em Fortaleza, no dia 14 de junho de 1974.

Cariri vai produzir energia eólica
     A nota abaixo foi publicada na coluna de Egídio Serpa (“Diário do Nordeste”, 06-09-2018): “Em maio, a Cemig fez um leilão para a compra de energia. O grupo francês Quaran ganhou o leilão, que incluiu os projetos desenvolvidos pela Cortez Engenharia e a Braselco, com capacidade de 240 MW de geração eólica. Os parques serão instalados no Cariri e neles serão investidos R$ 1 bilhão.
       A Quadran, maior empresa francesa do setor, terá a parceria da dinamarquesa Vestas, cuja fábrica de Aquiraz será ampliada para produzir os novos aerogeraores de 4,2 MW. A implantação do projeto – que estará pronto em 2021 e terão o Cariri como sede – começará por Missão Velha e Porteiras, estendendo-se depois para Jardim, Barbalha e Crato”.

Crato tem o seu primeiro “arranha céu”
      Os grandes edifícios (aqueles que antigamente o povo chamava de “arranha-céu”) já são abundantes, desde algum tempo, em Juazeiro do Norte. Em Crato, segunda maior cidade da Região Metropolitana do Cariri, a construção do edifício Kariris Blue Tower, com 19 andares, está na reta final. 
       O edifício fica localizado no centro da cidade, na Rua André Cartaxo, próximo ao Mercado Municipal Walter Peixoto. O Edifício Kariris Blue Tower abrigará 205 salas, 9 lojas, salão de eventos na cobertura, dentre outras sofisticações, como um aquário ornamental no hall dos elevadores. A iniciativa privada é quem tem garantido o progresso de Crato nos últimos tempos.

Um caririense ilustre: Prof. José Bizerra de Britto
     Zuza Bizerra (assim era mais conhecido o Prof. José Bizerra de Britto) foi um dos homens de bem do Cariri. Nasceu no sítio Malhada, município de Crato, em 6 de junho de 1878. Vindo cedo para estudar na sua cidade natal, foi aluno do Prof. José Marrocos. Depois estudou no Seminário São José até o curso de Teologia. Preferiu a vida de leigo, mas chegou a ser – por longos anos – um dos professores daquele vetusto educandário católico, e outros colégios de Crato. 
    Era reconhecido como emérito educador, líder católico e jornalista. Deixou vasto trabalho, prestado a sua cidade natal, nesses 3 ramos da atividade humana. O Prof. Zuza Bizerra era uma pessoa de fino trato e dotado de honestidade a toda prova. Por isso foi homem de confiança dos dois primeiros bispos de Crato, Dom Quintino e Dom Francisco de Assis Pires. Nunca se preocupou em amealhar bens materiais, por isso sempre viveu pobre, recebendo o respeito e admiração da comunidade. 
     Foi um vocacionado ao jornalismo. Dirigiu por muito tempo os dois jornais da Diocese de Crato: ”A Região” e “A Ação”. Como rábula, exerceu a advocacia em Crato e nos municípios vizinhos. Quando do seu falecimento, o escritor J.de Figueiredo Filho publicou: “Passou a vida no Magistério e a espargir o bem, munido de inteligência privilegiada e fé inquebrantável. Só ensarilhou armas quando os anos não mais lhe permitiram trabalhar”.
   Tive o privilégio de conhecer e conviver com o Professor José Bizerra de Britto, ele na ancianidade e eu ainda menino. Morávamos próximo um do outro, na Avenida Teodorico Teles. Meu pai tinha uma profunda admiração pelo velho professor, que era reconhecido por todos como um homem de bem, um cidadão exemplar em todos os aspectos.
     Recordo-me de ter lido alhures um depoimento do fundador das universidades cearenses, o eterno e admirável Reitor Antônio Martins Filho, onde ressaltava as características do homem íntegro que foi o Professor José Bizerra de Britto. Martins Filho foi aluno do Professor Zuza, na extinta Escola Técnica de Comércio de Crato, e guardou do antigo mestre a imagem de um homem de caráter, digno, honesto, sereno, justo e caridoso.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Cariri, uma região privilegiada

Localizada no centro do Nordeste brasileiro, constituindo-se um oásis – pois cercado pela paisagem seca do árido sertão nordestino – o Cariri cearense é uma região privilegiada. Lá, fica a Chapada do Araripe, a qual, dentre vários atrativos, abriga a Floresta Nacional do Araripe, onde existem redutos da Mata Atlântica no Brasil. O leque do ecoturismo da Chapada do Araripe é variegado: a flora e a fauna complementam atrações, como as trilhas que são percorridas a pé ou de bicicleta; o rapel, o voo de parapente e até balonismo. Outros atributos da Chapada do Araripe são desconhecidos dos caririenses. Confira abaixo.

Bacia Sedimentar do Araripe, o berço da Paleontologia do Brasil 
Fóssil de um Rhacolepiscionar 
Historicamente, o berço da paleontologia do Brasil é a região da Bacia Sedimentar do Araripe. Isso se comprova com o primeiro o relato (e desenho) de um fóssil brasileiro, na publicação do livro “Viagem pelo Brasil” (Reise in Brasilien) editado entre 1823 e 1831, onde consta uma referência a um peixe “Rhacolepis’, encontrado numa concessão carbonática, na região da Barra do Jardim (atual cidade de Jardim).

A riqueza dos fósseis da Chapada do Araripe
É nessa Bacia Sedimentar que fica a Chapada do Araripe, com 165 Km de extensão, estendendo-se pelas divisas do Ceará, Piauí e Pernambuco. Ela é conhecida pela sua rica biodiversidade e considerada a região fossilífera mais rica do período Cretáceo, em todo o planeta. Explicou o paleontólogo Alexandre Kellner (em entrevista à revista “Galileu”, número de agosto de 2000) que “o clima árido contribuiu para a excelente qualidade da preservação dos fósseis, ali existentes". Há cerca de 100 milhões de anos, existiam na Chapada do Araripe pequenos lagos, ocasionalmente alimentados pela água do mar. “A baixa concentração de oxigênio, no fundo desses lagos, dificultou a proliferação de bactérias e, portanto, a decomposição da matéria orgânica. Escavações ali realizadas já revelaram 350 exemplares de pterossauros de 19 espécies diferentes, sem falar de outros fósseis de animais e vegetais".
José Flávio Vieira lançará este mês seu novo livro 
O escritor cratense José Flávio Vieira, que também é médico, lançará no próximo dia 28 de setembro, seu mais recente livro, “Dormindo à borda do abismo – A medicina no Cariri cearense (1800-1900”). O lançamento do livro acontecerá no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri - URCA, em Crato e será apresentado por Carlos Rafael Dias, professor do Curso de História dessa Universidade.
O livro, com mais de quatrocentas páginas, farta e ricamente ilustrado, é resultado de uma profunda e longa pesquisa a partir de fontes documentais primárias e bibliográficas, a exemplo dos jornais pertencentes à Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, à Hemeroteca do Instituto Cultural do Cariri, ao Departamento Histórico Diocesano Padre Antônio Gomes de Araújo e à Biblioteca Menezes Pimentel, esta última localizada em Fortaleza. Pelo cuidado com que se revestiu todas as etapas de sua elaboração, da arrojada pesquisa, passando pela apurada escrita, feita em estilo peculiar do autor, até a sua editoração, o livro é um forte candidato a obra definitiva sobre esta temática regional.
Dividida em dezessete seções, e estes em inúmeros capítulos, a obra parte de um “continuum” dos principais acontecimentos da medicina na história geral para depois abordar os aspectos da colonização branca no Ceará e no Cariri, até chegar aos fatos e processos marcantes da conjuntura regional durante o século XIX. Nada passa ao largo de sua atenção, indicando a correlação existente entre os diversos contextos de uma região. Neste sentido, percebe-se que o autor não limitou seu enfoque à medicina em si, mas realizou um verdadeiro apanhado sobre a cultura regional, estabelecendo uma relação entre os vários campos da história: do econômico ao ambiental, do político ao religioso, do artístico ao científico, etc. Assim, sua narrativa tem a qualidade de atrair todos os tipos de leitores, pois segue o ritmo dos acontecimentos com precisão e é pintada com todas as nuanças possíveis de um panorama histórico que comporta infinitos e significantes detalhes.
Comparando a feitura do livro a um projeto arquitetônico, o autor revela que este é apenas “a antessala de uma casinha”, pois seu projeto é contar a história da medicina no Cariri até a década de 1960, atingindo “com sua torre, nuvens idílicas e nebulosas”. Não paira nenhuma dúvida de que ele atingirá o píncaro de sua ambição, visto ser dotado de disciplina e paixão inerentes aos grandes historiadores e literatos.
Com este lançamento, o público leitor, na amplidão que a expressão sugere, ganha uma obra que, ao nosso ver, se tornará referência para o estudo sobre a região do Cariri, no mesmo patamar do clássico “O Cariri”, de autoria de Irineu Pinheiro que, como J. Flávio, se dividia entre a profissão médica e o diletante, mas profícuo e competente ofício de pesquisar e escrever sobre a história regional.

A “Imperatriz do Crato”
O carro-andor que conduziu, pelas ruas centrais da cidade, a imagem histórica de Nossa Senhora da Penha – na procissão último dia 1º de setembro, – tinha cerca de 4 metros de altura. A decoração do andor foi inspirada no velho Hino da Padroeira do Crato, também chamado “Imperatriz Constante”, cantado pelos fiéis cratenses nos tempos da Monarquia e nas primeiras décadas da atual fase republicana.
Por que, em Crato, Nossa Senhora era chamada de “Imperatriz” e não de Rainha? Devido à diferença que existe entre um Rei e um Imperador. Um Rei governa um reino, geralmente pequeno. O Imperador é soberano de uma grande extensão de terra. Entra aí, principalmente, a relevância da extensão territorial.
 Por exemplo, a Rússia era um Império. A  Alemanha e a união da  Áustria-Hungria também. País de dimensões continentais, o Brasil, ao tempo da monarquia, era reconhecido, mundo afora, como um Império. Tivemos dois imperadores e três imperatrizes. Daí porque os cratenses daquele tempo não chamavam Nossa Senhora da Penha de “Rainha” e sim de “Imperatriz”.

O hino "Imperatriz Constante"
A tradição popular atribui a autoria desse antigo hino a Nossa Senhora da Penha, ao então Vigário de Crato, e depois primeiro bispo desta Diocese, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva. A estrofe “Mãe Imaculada, sois no céu e na terra Imperatriz constante! ” foi escolhida como temática para o andor de 2018. A imagem histórica, no andor, foi abrigada num castelo estilizado – representando a realeza de Maria Santíssima – cercada por anjos e flores (gérberas, rosas e margaridas). As centenas de rosas que ornamentaram o carro-andor foram doadas pelo povo cratense.  
Em 2008, o então pároco Pe. Edimilson Neves (hoje Bispo de Tianguá) mandou gravar um CD que contém o antigo e o atual Hino de Nossa Senhora da Penha. Esse CD, gravado pelo Coral de Divani Cabral, ainda se encontra à venda na lojinha da catedral.

Memória – Um caririense ilustre: João Gonçalves de Sousa 
Nasceu no distrito de Mangabeira (município de Lavras da Mangabeira) em 20 de agosto de 1913. João Gonçalves de Sousa foi uma das personalidades cearenses de destaque nacional no século XX. De origem humilde, numa visita pastoral que o segundo Bispo de Crato – Dom Francisco de Assis Pires – fez à Mangabeira, o pai de João Gonçalves lhe falou da inteligência do filho. E pediu ao bispo que o levasse para estudar em Crato, no que foi atendido. Estudou no Colégio Diocesano de Crato (onde trabalhou como contínuo).
Depois rumou para Salvador (BA) levando cartas de recomendações de Dom Francisco. Passou algum tempo na capital baiana. De lá, seguiu para o Rio de Janeiro. Conseguiu aprovação em dois vestibulares: Agronomia e Direito. Concluiu Ciências Jurídicas na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.
Dotado de perseverança e inteligência privilegiada, João Gonçalves chegou a ser alto funcionário da Organização dos Estados Americanos– OEA, em Washington (EUA). Tinha mestrado em Sociologia Rural, pela Wiscousin University (EUA), onde estudou de 1944 a 1946.  Escreveu alguns livros, dentre eles: “The Regional Aproach in Exploring The Northeastern Section of Brasil” (sua Tese de Doutorado, feito nos EUA, em 1956); “Migrações Nordestinas” de 1957; “Algumas Experiências Extracontinentais de Reforma Agrária”, de 1963; “Nordeste Brasileiro: Uma Experiência de Desenvolvimento regional”, de 1979.João Gonçalves de Sousa foi Superintendente da SUDENE (1964-1966) e Ministro do Interior (1966-1967).
Teve seu nome cogitado nas articulações para a escolha indireta do Governador do Ceará, para o período 1975-1979. Era apoiado pelo então governador César Cals e pelo General Golberi do Couto e Silva, mas o escolhido foi Adauto Bezerra. João Gonçalves de Sousa nunca perdeu o contato com suas origens. Quando esteve no poder beneficiou sua vila Mangabeira com alguns melhoramentos. Faleceu em 16 de janeiro de 1979, no Rio de Janeiro.
Escritores do Cariri: Joaryvar Macêdo
Joaquim Lobo de Macêdo (mais conhecido por Joaryvar Macedo) nasceu em Lavras da Mangabeira em 20 de maio de 1937 e faleceu em Fortaleza em 29 de janeiro de 1991.Foi poeta, historiador e um dos maiores intelectuais o Cariri. Escreveu e publicou quase 50 trabalhos, alguns relevantes, dentre os quais vale citar:  “Caderno de Loucuras” (poesias); “Os Augustos”; “Um Bravo Caririense”; “A Estirpe da Santa Teresa”; “Povoamento e povoadores do Cariri”; “Império do Bacamarte” e “Temas históricos e regionais”.
Além de professor na Faculdade de Filosofia de Crato e nos principais colégios de Crato e Juazeiro do Norte, Joaryvar foi fundador do Instituto Cultural do Vale Caririense–ICVC, com sede em Juazeiro do Norte, instituição por ele dirigida durante 10 anos. Foi Secretário da Cultura do Estado do Ceará (1983–1987). Pertenceu à Academia Cearense de Letras, Instituto do Ceará, Instituto Cultural do Cariri, Instituto Genealógico Brasileiro, Academia Internacional de Ciências Humanísticas e membro-correspondente de numerosas instituições culturais do Brasil e do exterior. Foi agraciado com 12 Comendas, Títulos e Honrarias, dentre elas a Medalha José de Alencar do Governo do Estado do Ceará.

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