segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Caririenses ilustres: Padre Francisco Gonçalves Pita
  Nasceu em Missão Velha, no dia em 29 de maio de 1895, filho de Fenelon e Julieta Gonçalves Pita. Em 1909 vamos encontrá-lo estudando no Seminário São José de Crato. Depois foi aluno do Seminário da Prainha, em Fortaleza. Recebeu a ordenação presbiteral em 27 de fevereiro de 1921. Foi logo nomeado Vigário da Paróquia de São Vicente Férrer, de Lavras da Mangabeira, onde permaneceu até dezembro de 1936, retornando a Crato. 
 Quando de um dos fechamentos do Seminário São José, funcionou naquele edificio  o Ginásio São José. Fechado este, Pe. Francisco Pita, com recursos próprios e ajuda dos pais que eram pessoas ricas em Missão Velha, adquiriu um prédio na esquina da Avenida Duque de Caxias com Rua Nelson Alencar e lá fundou e fez funcionar o antigo Ginásio do Crato. Ali, Pe. Francisco Pita  lecionou Geometria, Álgebra, Aritmética, História Natural Física e Química.
 Tempos depois, foi aprovado para ser professor do Colégio Militar de Fortaleza. Deixando Crato,  vendeu o seu Ginásio à Diocese, o qual passou a se chamar Colégio Diocesano de Crato. 
  Em Fortaleza, foi capelão do Colégio Militar  e da igreja de São Pedro. Primeiro pároco da nova Paróquia de Santa Luzia (fundada em 13.03.1942). Ensinou língua portuguesa do Colégio Militar. Recebeu o título de Monsenhor, que lhe foi  concedido pelo Papa Pio XII. Faleceu na capital cearense, em 23.11.1969, vítima de atropelamento. É patrono da Cadeira de nº 16 do Instituto Cultural do Cariri, com sede em Crato
      
História: sobre o povoamento do Cariri

       Teve início, provavelmente por volta de 1703, o povoamento do extremo sul do Ceará, quando criadores baianos e sergipanos – seguindo o caminho dos rios, que eram então abundantes – chegaram a esta região. Vinham, com seus rebanhos, pela ribeira do Rio Salgado e Riacho dos Porcos. Alguns se fixaram inicialmente na povoação de São José dos Cariris Novos, atual cidade de Missão Velha.
                                                                        Primitivo engenho de rapadura do Cariri   

        Donde se conclui que a primeira exploração econômica do Cariri foi a pastoril. Somente por volta de 1718 (para alguns historiadores), ou 1738 (para outros), descobriu-se a vocação canavieira desta parte do Ceará, graças às amostras de cana-de-açúcar trazidas, provavelmente, da Bahia ou da Zona da Mata de Pernambuco. Teve início, naquele momento, a predominância da agricultura, sobre as atividades pastoris no Cariri cearense.

A presença de famílias da Província de “Sergipe del Rey” nessa povoação
                 Antigo Brasão de Armas de Sergipe del Rey, na época da dominação holandesa

       É da lavra do Monsenhor Francisco Holanda Montenegro o melhor escrito sobre a presença de famílias sergipanas na povoação do Cariri. No livro “As Quatro Sergipanas”, Mons. Montenegro deixou para a posteridade suas pesquisas e interessantes descobertas. E fê-lo arrimado em alentados dados históricos, onde prova que nas linhagens da “Gens Caririenses” estavam troncos familiares provenientes da então Província de Sergipe del Rey. 
 Bastaria recordar aqui a ascendência do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro – o “Contrarrevolucionário do Cariri de 1817”, considerado, também, o fundador da cidade de Juazeiro do Norte. O lendário Brigadeiro Leandro era filho do sergipano Antônio Pinheiro Lobo e Mendonça e da pernambucana Joana Bezerra de Menezes. Descendia ele – em linha direta – do português Diogo Álvares (que ficou conhecido pelo nome de "Caramuru") e da índia Paraguaçu (convertida ao catolicismo e batizada em 1528, na Catedral Saint-Malo, na França, com o nome de Catherine du Brésil). Reza a tradição ter sido esse o primeiro casal cristão brasileiro. O livro de Mons. Montenegro, no entanto, tem vasto inventário de outras famílias sergipanas que povoaram o Cariri cearense.

Sobre o Brigadeiro Leandro
Livro "As Quatro Sergipanas", da lavra de Monsenhor Francisco Holanda Montenegro

          Monsenhor Francisco Holanda Montenegro, no seu livro "As Quatro Sergipanas", descreve assim o perfil moral do fundador de Juazeiro do Norte: “... a relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso."
 O Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro nasceu no sítio Moquém, zona rural de Crato, em 5 de dezembro de 1740. A historiadora Amália Xavier de Oliveira (uma das primeiras a defender o Brigadeiro como fundador de Juazeiro do Norte) argumentou que isso ocorreu porque, dentre suas várias propriedades rurais, o Brigadeiro escolheu uma delas para viver seus últimos dias. Era a Fazenda Tabuleiro Grande, (localizada onde hoje se ergue a cidade de Juazeiro do Norte) assim descrita por Amália:

As extensas terras do Brigadeiro Leandro
    Juazeiro do Norte em 1827, numa pintura da artista plástica Assunção Gonçalves. A casa com pequeno alpendre e um banco na frente, era a casa do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro.

 Conforme a escritora Amália Xavier de Oliveira: “... imensa extensão de terra, partindo do município de Crato e espraiando-se em direção à serra de São Pedro, era a Fazenda Tabuleiro Grande, pertencente ao Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e que, portanto, fazia parte da gleba de terra do engenho Moquém que seus avós doaram aos seus pais como dote, quando eles se casaram. O ponto mais pitoresco da fazenda era uma ligeira elevação do terreno, próximo ao rio Salgadinho, onde havia três grandes juazeiros, formando um triângulo e sobressaindo, entre os demais, pelo tamanho de sua fronde e pela beleza do verde de sua clorofila. Sob esta fronde acolhedora, procuravam abrigo os viajantes feiristas, que, de Barbalha, Missão Velha e outras imediações se dirigiam a Crato para vender seus produtos e comprar mantimentos para a semana (...)

 Como Juazeiro do Norte surgiu
  E continua Amália: "Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda perto da casa já existente".
  Em 15 de setembro de 1827 foi lançada a pedra fundamental da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Assistiu a essa solenidade o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, aquela época caminhando para os 87 anos de idade. A imagem de Nossa Senhora das Dores, destinada à capelinha, foi adquirida pelo brigadeiro em Portugal e ainda hoje é conservada, em excelente estado, na Casa Paroquial de Juazeiro do Norte.

Fato histórico pouco divulgado: Padre Cícero era um “Bezerra de Menezes”
 Também o Padre Cícero Romão Batista tinha ascendência sergipana.     

 Deve-se aos pesquisadores Renato Casimiro e Daniel Walker a constatação de que, dentre os ancestrais do Padre Cícero Romão Batista, alguns são do clã Bezerra de Menezes. Num livro escrito por esses dois historiadores (“A Família Bezerra de Menezes”, ABC Editora, Fortaleza, 2011) consta: 

“Alguns ancestrais do Pe. Cícero pertenciam à família Bezerra de Menezes. Quem lê estudos mais aprofundados sobre a biografia de Cícero Romão Baptista, o padre secular que revolucionou a Povoação do Joaseiro, entre 11 de abril de 1872 – quando chegou na povoação, e 20 de julho de 1934, quando falece – deve ter encontrado alguns destes registros. As suas tetravó e trisavó maternas, respectivamente, Petronila Bezerra de Menezes e Ana Maria Bezerra de Menezes, filha de Petronila, eram relacionadas por genealogistas como oriundas da contribuição étnica da família, dos troncos existentes entre velhos povoadores da Bahia, de Pernambuco e de Sergipe especialmente.
  No desenvolvimento genealógico desta família, agora é oportuno salientar que, o nono filho do casal Bento Rodrigues Bezerra e Petronila Velho de Menezes, se não teve uma grande importância no povoamento do Cariri, menor não é o significado de sua descendência, especialmente, para Juazeiro do Norte, pois representou o berço do patriarca na extensa Nação Romeira, o reverendíssimo Padre Cícero Romão Baptista. Assim:

1.    João Bezerra de Menezes matrimoniou-se com Maria Gomes, e foram pais de:
2.    Petronila Bezerra de Menezes que casou com o Cap. João Carneiro de Morais, e geraram:
3.    Ana Maria Bezerra de Menezes, que desposou o Cap. Francisco Gomes de Melo, pais de:
4.    José Gomes de Melo, capitão, de cujo enlace com Ana de Farias, tornaram-se pais de:
5.    Vicência Gomes de Melo, que uma vez casada com José Ferreira Castão, foram pais de:
6.    Joaquina Vicência Romana (ou Joaquina Ferreira Castão – Dona Quinô), de cujo casamento com Joaquim Romão Baptista Mirabeau, foram pais de:
7.    Padre Cícero Romão Baptista”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

De luto o patrimônio ecológico do Cariri: fogo trouxe destruição ao Parque Estadual do Sítio Fundão
                               O que restou do velho "engenho de pau" do Sítio Fundão após o incêndio

   A cidade de Crato, e toda a região do Cariri, ficaram mais pobres – no último sábado, 3 de novembro – devido a um incêndio – cujas causas ainda não foram apuradas – que destruiu toda a estrutura do “engenho de pau" existente naquela reserva ecológica. O engenho destruído, que era movido a tração animal, produziu rapadura até 1944. O incêndio destruiu ainda cerca de dez hectares da floresta nativa daquela reserva, cuja flora preservavam os biomas Caatinga e Cerrado e remanescentes da Mata Atlântica.

Onde está localizado o parque
    O Parque Estadual do Sítio Fundão fica localizado na área urbana da cidade, e contribui para a preservação de aves e animais silvestres, dentre eles saguis, lagartos em maior escala, como também serve de habitar para raros tatus, tamanduás e veados que já foram vistos na sua área de 94 hectares.

Quando o parque foi adquirido pelo Governo do Ceará
 O Parque Estadual Sítio Fundão foi criado pelo Governo do Estado do Ceará, em 05 de junho de 2008. Lá podíamos contemplar a beleza exuberante da sua flora. O parque abriga, ainda, parte do território do Geossítio Batateira, integrante do   Geopark Araripe. Era comum para lá se dirigirem comitivas de alunos das nossa rede escolar para atividades de Educação e interpretação ambiental, recreacionais e pesquisa científica.

 Quando da sua criação pelo Governo do Ceará, em 2008, foi inventariado o seguinte patrimônio do Parque Estadual do Sítio Fundão:
 1) Uma murada de pedra e cal erguida por ordem do imperador D. Pedro II, cujos trabalhos foram executados por negros escravos;
 2) Um engenho de madeira com tração animal que funcionou puxado por cavalos ou junta de bois, construído em 1904 e que representa um símbolo da época áurea da produção rapadureira caririense, mantido em funcionamento até o ano de 1944;
3)A casa onde Seu Jeferson, antigo proprietário, morava e que, curiosamente devido à tranquilidade do local, não tinha portas nem janelas;
4) Uma espaçosa casa abandonada, construída por Seu Jeferson com o objetivo de ser sua morada, porém nunca habitada; 
5) Uma casa de taipa em 1° andar, edificação que se destaca pela raridade do modelo construtivo, com alpendre elevado, escada em parafuso e piso superior feito em madeira, planejada por Seu Jefferson e construída para um dos seus filhos.
                                       Casa de taipa construida por Jeferson da Franca Alencar

Preservando a vegetação primitiva do Cariri
 O Sítio Fundão é um pedaço preservado da vegetação do Cariri. E isso se deve ao Sr. Jeferson da Franca Alencar, que manteve incólume – até 1986, ano do seu falecimento – a área florestada, e proibia a caça de aves e animais silvestres naqueles 94 hectares.  Ademais, graças também ao Sr. Jeferson da Franca Alencar, foram preservados no Sítio Fundão outros bens históricos (todos tombados pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará) a exemplo da Casa de Taipa (chamada hoje “Centro de Visitantes”) composta de piso inferior e superior, além de uma parede de pedras. No interior do Parque Estadual do Sítio Fundão corre parte do Rio Batateira, que banha aquele espaço e mantém verde a vegetação na parte do árido verão nordestino, que se estende pelos meses setembro/dezembro de cada ano.

Uma área para entrar em contato com a natureza

        Ressalte-se que, até a semana passada – antes da ocorrência do incêndio – o Parque Estadual do Sítio Fundão disponibilizava cerca e 3,5Km de trilhas e circuito de bicicleta para os visitantes. Em 2017, aquela reserva ecológica recebeu a visita de cerca de 3.700 pessoas. Ela ficava aberta ao público no período das 6h às 9h e das 15h30 às 17h30. Não era cobrado ingresso dos visitantes, que tinham uma equipe de 11 funcionários para servirem de cicerone no passeio pelo sítio. 

Dom Luís Antônio dos Santos, 1º Bispo do Ceará, a quem o Cariri deve muito do seu progresso
 Antes mesmo de visitar Crato, pela primeira vez, Dom Luís Antônio dos Santos já havia feito um ato concreto em defesa da saúde dos seus diocesanos residentes no Cariri. Em maio de 1862, ocorreram em Crato os primeiros casos de cólera-morbo, que viria a provocar a morte de cerca de 1.100 cratenses. O historiador Irineu Pinheiro fez o seguinte registro no seu livro Efemérides do Cariri, à página 148: “1862, 17 de Junho – Fundado em Crato, na estrada entre esta cidade e Juazeiro, por ordem de Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará, o cemitério dos coléricos, o qual mediu vinte braças de largura e quarenta e três de profundidade. Foi benzida em frente dele pelo padre João Marrocos Teles uma cruz de madeira, mandada erguer pelo pároco do Crato, Manoel Joaquim Aires do Nascimento. Morreram da epidemia o padre Marrocos e Joaquim Romão Batista, pai do Padre Cícero Romão Batista”. 
  Homem culto e, ao seu tempo, bem informado, Dom Luís sabia que o Cemitério Bom Jesus dos Pecadores (hoje denominado de Nossa Senhora da Piedade) de Crato não era o local certo para sepultar as vítimas de cólera-morbo, pois isso poderia contribuir para alastrar o contágio da moléstia. Para tanto, em 1862, determinou a improvisação de novo cemitério, distante, dois quilômetros do centro de Crato, no local onde hoje fica a subestação de energia da COELCE, no bairro São Miguel.

A grande obra de Dom Luís em Crato: o Seminário São José
                                     Seminário São José de Crato nos seus primórdios

   O Seminário São José de Crato foi fruto de um desejo de Dom Luís, com o objetivo de ampliar a divulgação da Boa Nova de Cristo e salvar almas, no território da sua vasta diocese, a qual, à época, compreendia todo o Estado do Ceará.  Para concretizar esse anelo, e depois de ter recebido sugestão nesse sentido, em 1871, do recém-ordenado Padre Cícero Romão Batista, Dom Luís encaminhou – em 1872 – dois padres lazaristas, – padres Guilherme Van den Sandt (alemão) e José Joaquim de Sena Freitas (português nascido no arquipélago dos Açores) – para realizarem uma missão religiosa, em terras do Cariri cearense. Os dois missionários lazaristas ficaram encantados com o progresso da cidade e com o entusiasmo com que a população acolheu as missões.
  Os dois padres receberam orientação para angariar doações visando à construção de um Seminário Diocesano, na cidade de Crato. Depois disso Dom Luís Antônio enviou para Crato o padre italiano Lourenço Vicente Enrile, para acompanhar a construção do vasto prédio, que seria erguido em grande terreno doado pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, no aprazível subúrbio, à época conhecido como Grangeiro, hoje denominado bairro do Seminário. Logo faltaram os recursos para dar continuidade à construção. Então Dom Luís Antônio resolveu deslocar-se de Fortaleza para Crato, ficando ele próprio à frente dos trabalhos. Aqui chegou no dia 31 de dezembro de 1874. E só retornou a Fortaleza em julho de 1875, deixando em funcionamento (até os dias atuais) o Seminário São José de Crato.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Homens que fizeram Juazeiro do Norte
 Será lançado neste mês de novembro, no Memorial Pe. Cícero (falta marcar a data e a hora), a 2ª edição do Livro “Gente de Expressão” de Francisco Luiz Soares. Trata-se de uma obra que resgata a participação de alguns cidadãos no crescimento e progresso de Juazeiro do Norte. São biografados homens, residentes em Juazeiro do Norte, que não viveram apenas para si, nem priorizaram ganhar apenas o próprio sustento. Eles prestaram um serviço nobre e desinteressado, contribuindo para a Terra do Padre Cícero chegar ao nível de desenvolvimento que hoje ostenta.
 Dentre esses homens, o autor escreveu sobre os falecidos Padre Cícero Romão Batista, José Geraldo da Cruz, Dorotheu Sobreira da Cruz, Joaquim Cornélio, Raimundo Adjacir Cidrão, Odílio Figueiredo, Edmundo Morais, Felipe Neri, Luciano Theophilo de Melo, Aderson Borges de Carvalho, Antônio Corrêa Celestino, dentre outros.
 No livro é feito ainda o resgate da criação e atuação da Associação Comercial de Juazeiro do Norte.

Chegou a temporada do fim-do-ano trazendo mais flores
 O final do ano está chegando! Esta temporada, na região do Cariri, nos traz a floração dos flamboyants, árvores que os antigos caririenses chamavam “sombrião”. Existem pessoas que não percebem os flamboyants floridos nos campos ou nas cidades. Essas pessoas são muito ocupadas para perder tempo observando a mudança do tempo e a floração das árvores. No entanto, indiferente à reação dessas pessoas, o fim-do-ano está chegando e com ele as flores dos flamboyants, embelezando, ainda, mais a já bonita paisagem do Cariri...

Agostino Balmes Odísio o italiano que embelezou as cidades do Cariri
                                              Monumento a Cristo Rei, no centro de Crato

  Italiano de nascimento, Agostinho Balmes Odísio foi um escultor e arquiteto que viveu seis anos no Cariri, entre 1934 e 1940. Neste curto espaço de tempo, ele foi autor de bom número de obras de arte implantadas no Cariri, sendo a mais conhecida a Coluna da Hora, com 29 metros de altura, encimada pela estátua do Cristo Redentor, com seis metros — totalizando 35 metros — ainda hoje considerada o ícone da cidade de Crato.
Coluna da Hora, na Praça Padre Cícero em Juazeiro do Norte
 Agostinho Balmes nasceu em 1881, em Turim, norte da Itália, e formou-se pela Escola de Belas Artes daquela cidade. Na infância, foi aluno da Escola Profissional Domingos Sávio, mantida por São João Bosco. Em 1912, ele esculpiu um busto do Rei da Itália, Vito Emanuel II, conquistando o 1º lugar numa disputa por uma bolsa de estudo em Paris. Na Capital francesa, foi discípulo de August Rodin, considerado, ainda hoje, o maior escultor contemporâneo. Em 1913, com 32 anos de idade, Agostinho Odísio resolveu emigrar para a Argentina, onde residia um irmão dele. Entretanto, por motivos ignorados, desembarcou no Porto de Santos, em São Paulo e permaneceu no Brasil até sua morte.
 Durante 20 anos, produziu dezenas de obras de arte nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 1934, devido a problemas de saúde, foi aconselhado a residir no Nordeste, por causa do clima quente da região. Por acaso, leu na imprensa sobre a morte do Padre Cícero e, vislumbrando oportunidade de negócios – por conta da religiosidade da cidade – veio para Juazeiro do Norte, onde residiu até 1940.
  Agostinho Balmes foi também responsável pelo projeto do Palácio Episcopal de Crato, e da Coluna da Hora, na Praça Padre Cícero, bem domo da ampla reforma da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, ambas localizadas  em Juazeiro do Norte. São dele os diversos projetos de reforma de Igrejas e altares do Cariri, com destaque para as fachadas da igrejas-matriz de Milagres e Missão Velha.

 Estátua de Padre Cícero, em frente à capela do Socorro, em Juazeiro do Norte

       Esculpiu aqui vários monumentos. Dentre eles, o de Dom Quintino (na Praça da Sé em Crato), e o do Padre Cícero (em frente à capela do Socorro, em Juazeiro). Introduziu o uso de mosaico e do marmorite nos pisos das casas do Cariri.
















A ideia do Geopark Araripe
  Surgiu da iniciativa do então governador do Ceará, Lúcio Alcântara, (2002-2006), após sugestão do então reitor da Universidade Regional do Cariri, Prof. André Herzog. O professor da URCA, geólogo Alexandre Magno Feitosa Sales foi uma peça fundamental na consolidação da ideia do Geopark Araripe, desde o nascedouro até o reconhecimento pela UNESCO. Para a concretização do Geopark Araripe foi assinado um “Convênio de Cooperação entre a Universidade de Hamburgo (Alemanha) / URCA/ DAAD”, sob a coordenação do Prof. Dr. Gero Hillmer, Curador do Instituto e Museu de Paleontologia da Universidade de Hamburgo.

Como surgiram os “geoparks”
 A ideia surgiu durante a realização da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Rio de Janeiro no ano de 1992. O megaevento ficou conhecido como a ECO-92. Na ocasião, os temas de proteção e preservação ambiental passaram a ser destaque dentre as principais prioridades da humanidade. Esses temas transformaram-se em palavras de ordem em todos os roteiros de desenvolvimento, por meio de documentos denominados “Agenda 21”.

Sobre o Geopark Araripe
                                          Geotope da Colina do Horto em Juazeiro do Norte

 Localizado no extremo-sul do Cariri, o Geopark Araripe  é o primeiro parque geológico das Américas reconhecido pela UNESCO. Inicialmente, parte de seu território já constituía a Área de Proteção Ambiental Chapada do Araripe, criada em 1997, e localizada no planalto próximo à divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco.
 O Geopark Araripe é a maior referência turística-ambiental do Cariri e um potencializador do desenvolvimento regional. Ele foi o primeiro do Brasil a fazer parte, da Rede Global de Geoparques credenciados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A área compreendida pelo Geopark Araripe é de aproximadamente 4.000 km², e abrange territórios dos municípios Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

A imensa importância do Geopark Araripe
                                                   Sede do Geopark Araripe, na cidade de Crato

 Hoje reconhecido – pela UNESCO – como “Patrimônio da Humanidade”, o Geopark Araripe, abrange a Bacia Sedimentar do Araripe e possui a maior reserva de registros fósseis planeta referentes ao Período Cretáceo Inferior.  Naquele espaço foram achados registros geológicos e paleontológicos inéditos desde os primeiros anos do Século XIX, com registros entre 110 e 70 milhões de anos de existência, em excepcional estado de preservação e diversidade. No Bacia Sedimentar do Araripe está mais de um terço de todos os registros de pterossauros descritos no mundo; mais de 20 ordens diferentes de insetos e a única notação da interação inseto-planta. Há similares destas mesmas espécies no continente Africano, comprovando cientificamente que os continentes um dia foram ligados, ou seja, formavam um só continente. Este chamado pelos cientistas de continente primaz Gondwana.

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