sábado, 30 de março de 2019

 Emerson Monteiro chega aos 70 anos

    O auditório do Instituto Cultural do Cariri–ICC ficou lotado com os muitos amigos e familiares de José Emerson Monteiro Lacerda. Este ganhou uma festa-surpresa, na noite do último dia 29, por conta do 70º aniversário de idade. Emerson, embora tenha chegado a Crato com 5 anos de idade, nasceu em Lavras da Mangabeira, no dia 26 de março de 1949.
   Emerson Monteiro é um homem plural. Desde a adolescência deixou marcas de sua presença na vida cultural de Crato. Ainda estudante, foi presidente do Grêmio Farias Brito, do Colégio Diocesano, quando lá estudou. Depois escreveu crônicas para as duas emissoras de rádio da Cidade de Frei Carlos: Araripe e Educadora do Cariri. Em 1966, foi um dos jovens que mudou a linha editorial e gráfica do jornal “A Ação”, semanário da Diocese de Crato. Vem daquele tempo minha convivência com Emerson.
     Em 1967, aprovado em concurso público para o Banco do Brasil passou a trabalhar em Brejo Santo (CE). Em 1971 passou a residir em Salvador (BA) onde estudo Psicologia e Comunicação. Em 1977 retornou ao Crato e as suas origens. Aqui graduou-se em Direito e adentrou pela atividade política, sendo eleito vereador à Câmara Municipal de Crato. Foi ético e honesto nessas duas atividades, coisa rara para os tempos que marcaram a redemocratização do Brasil a partir de 1986.
       O Instituto Cultural do Cariri muito deve à dedicação e trabalho desinteressado de Emerson. Ainda hoje, depois de ter exercido todos os cargos na diretoria do ICC, Emerson é editor da revista Itaytera. Emerson Monteiro já escreveu e publicou diversos livros, dentre os quais destaco: “Sombra e luz”, “Noites de lua cheia”, “Cinema de janela”, “Crônicas e narrativas”, “É domingo” e “Histórias do Tatu”.
          Mas, e acima de tudo isso, Emerson Monteiro é respeitado pelo bom caráter de que é possuidor, pela sua mansidão, lhaneza no tratamento com as pessoas, correção no agir e profundo sentimento humanitário e filantrópico que lhe é peculiar. Um homem de bem!

O Cariri tem disso: capela a céu aberto

    Na foto acima, a capela Recanto da Divina Misericórdia, construída em Missão Velha. Ela fica situada no final da Rua Padre Cícero, naquela cidade, mais precisamente em frente à tradicional Indústria Linard.
No tempo das bodegas

     Até o início da década 60 do século passado inexistiam no Cariri os supermercados. As famílias compravam os gêneros alimentícios nas bodegas. Em Crato, no centro da cidade as mais conhecidas eram as mercearias de Zé Honor e a de Cícero Beija-flor. Naquele tempo nada era empacotado previamente, como nos dias atuais. O cliente escolhia o que queria e levava as mercadorias para casa acondicionadas em papel de embrulho. No piso das bodegas, grandes vasilhames de flandres guardavam farinha, feijão, arroz, açúcar, sal, milho, goma, dentre outros.
     Nas prateleiras de madeira ficavam o sabão, café, latas das bolachas Pilar e Confiança, conservas, etc. No balcão tinha fiteiros, onde eram expostos bombons (chamados de “confeitos”), cocadas, chocolates em forma de peixinhos e os chicletes Adams (caixinhas amarelas sabor hortelã e caixinhas vermelhas, sabor canela) e outras guloseimas. As bodegas vendiam de tudo. A maioria dos clientes fazia a feira e só pagava no fim do mês. As compras eram anotadas em cadernetas. Existia confiança recíproca entre o dono da bodega e o freguês. O “progresso” acabou com isso. Poucas bodegas, nas periferias das cidades caririenses, ainda resistem à mudança voraz feita em nome do progresso.

 Destruíram os rios e restaram as enchentes 
    Na foto acima, como era o Rio Granjeiro que passava no centro de Crato na década 30 do século passado. A foto foi feita onde hoje existe um posto de gasolina na esquina da Rua Santos Dumont com Rua Almirante Alexandrino. O que resta hoje deste cenário paradisíaco é um canal imundo, que transborda na temporada das chuvas trazendo lama ao centro da cidade e nos demais meses do ano recebe os esgotos da redondeza. 
     Em Juazeiro do Norte, o Rio Salgadinho passava próximo ao centro da cidade, e – como lembram os antigos – tinha uma água límpida, cristalina que permitia ver até os peixinhos que ali nadavm. Hoje o Rio Salgadinho é o repositório do lixo urbano que grassa nas proximidades do antigo leito.Poluído, fedorento... Triste.
Cariri perdeu Monsenhor Manuel Feitosa

       Bem disse o Bispo de Crato, Dom Fernando Pastana, na homilia da missa de corpo presente do Monsenhor Manuel Feitosa: “A Diocese e a cidade de Crato amanheceram mais pobres, nesta quinta-feira, 28 de março de 2019. 
      Nascido em 25 de novembro de 1930, na Fazenda Olha d’Água da Serra, zona rural do município de Arneirós, no Sertão dos Inhamuns, Mons. Manuel Feitosa veio ao mundo num lar pobre; no seio de uma família de agricultores, composta por pessoas profundamente imbuídas dos princípios da Igreja Católica.
     Àquela época, a região dos Inhamuns era integrante da Diocese de Crato. E a família Feitosa era um destacado clã naquelas terras do semiárido que lembram um deserto na época do verão. Os jovens da família Feitosa tinham o costume de deixar o seu torrão natal para estudar na cidade de Crato. Muitos daqueles jovens se destacaram, posteriormente, como sacerdotes cultos, professores vocacionados e como escritores”.
       Mons. Manuel Feitosa foi um deles. Foi padre durante 60 anos. Viveu a maior parte da sua vida na cidade de Crato. Mas prestou serviços à Igreja nas paróquias dos municípios de Jardim, Lavras da Mangabeira, Várzea Alegre, Granjeiro, Quitaiús e Ipaumirim, Assaré, Antonina do Norte e Tarrafas. Retornou a Crato em 2000 e seus últimos 19 anos de vida foram vividos em fazer o bem a todos que o procuravam. O corpo do Monsenhor Manuel Feitosa foi enterrado na Capela da Ressurreição, na Sé Catedral, onde estão sepultados os corpos dos quatro primeiros bispos da Diocese de Crato: Dom Quintino, Dom Francisco, Dom Vicente e Dom Newton.

sábado, 23 de março de 2019

No tempo em que se ensinava a História do Cariri

   Embora hoje não conste mais da grade curricular do ensino superior, houve um tempo em que era ministrado – na extinta Faculdade de Filosofia do Crato – a disciplina “História do Cariri”. Em 1964, o professor e historiador J.de Figueiredo Filho publicou o 1º volume (de uma série de quatro livros que viria a escrever) sobre a “História do Cariri’. A obra era destinada às aulas, por ele ministradas, na Faculdade de Filosofia do Crato, cujos cursos seriam posteriormente encampados para a formação da atual Universidade Regional do Cariri (URCA). J. de Figueiredo Filho esclareceu no primeiro volume da sua obra “História do Cariri” que sua intenção ao escrever este livro: “destina-se aos meus alunos e também servirá como orientação ao ensino da história regional, nos estabelecimentos secundários, nos grupos escolares e escolas isoladas”
Quem foi J. de Figueira Filho
  José Alves de Figueiredo Filho (foto ao lado), farmacêutico por formação, foi também professor, escritor, historiador, memorialista, tendo nascido em Crato em 1904. Foi um dos principais intelectuais da região do Cariri cearense. Um dos fundadores do Instituto Cultural do Cariri, em 1953, uma instituição difusora da história e da cultura da região sul-cearense. 
    Com a criação da Faculdade de Filosofia de Crato, em 1960, J. de Figueiredo Filho assumiu o cargo de professor do Departamento de Geografia e História daquela escola de ensino superior, na qual ministrou as disciplinas de História do Cariri e do Ceará. Foi, ainda, membro da Academia Cearense de Letras e sócio da ANPUH (Associação Nacional de Professores Universitários de História).

A obra cultural de J. de Figueiredo Filho

   
     Em 1958 o Ministério da Agricultura do Brasil publicou o livro “Engenhos de Rapadura do Cariri”, de J.de Figueiredo Filho, um clássico na temática da produção da rapadura.Ele deixou 16 livros publicados.
     O mais conhecido é o autobiográfico: “Meu mundo é uma farmácia”. Sua vasta obra é polivalente. Estreou na literatura, em 1937, como romancista, com a obra “Renovação”, publicado pela Editora Odeon, do Rio de Janeiro, à época capital do Brasil. Na década 40 do século passado, Figueiredo Filho já escrevia – para os jornais de Fortaleza e Recife – sobre as reservas paleontológicas do Cariri.
     Ele foi a alma da fundação do Instituto Cultural do Cariri–ICC. Figueiredo Filho foi o editor, por longos anos, da revista “Itaytera”, órgão oficial do ICC. Escreveu dois livros sobre as manifestações da tradição popular no Cariri e um sobre Patativa do Assaré. Faleceu em 1973.
J. de Figueiredo Filho e o resgate da Caririensidade

    O prof. Hildebrando Maciel Alves acaba de concluir seu Mestrado – na área de História – na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Título da monografia dele: “A face historiadora de J. de Figueiredo Filho e a construção do Cariri cearense”. Hildebrando aprofundou a análise de construção do passado do Cariri, a partir dos escritos de J. de Figueiredo Filho. Este – juntamente com um grupo de notáveis carirenses – foi responsável pelo movimento da defesa intransigente da região sul do Ceará, num trabalho de valorização do torrão natal e divulgação da caririensidade.
     Essa plêiade de bons intelectuais promoveu diversas ações – nas décadas de 40 a 70 do século passado – restaurando a memória do nosso passado regional. Para tanto, escreveram livros e artigos; promoveram solenidades; reconstruíram calendários cívicos; recuperaram o panteão dos heróis caririenses; fundaram entidades culturais e o Museu Histórico de Crato, o qual, infelizmente – nos últimos anos –, vem sendo malcuidado, dada a falta de uma boa gestão por parte do Poder Público Municipal, a quem – em má hora –, o museu foi entregue. (Para ler a íntegra da monografia de Hildebrando clique: (http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/173614).

Sobre a data de nascimento do Padre Cícero 
       Este 24 de março de 2019 assinala os 175 anos de nascimento do Padre Cícero Romão Batista, na então Vila Real do Crato. Está exposto na Capela Batismal da Catedral de Crato um quadro com a Certidão de Batismo do Padre Cícero. Reproduz a fotocópia da folha 61 do Livro de Batizados de 1843 a 1845 – onde consta literalmente:
     “Cícero, filho legítimo de Joaquim Romão Batista Meraíba, e de sua mulher Joaquina Ferreira Castão. Nasceu em 23 de março de 1844 e foi batizado pelo pároco solenemente com santos óleos nesta cidade do Crato em 8 de abril do mesmo ano. Foram seus padrinhos seu avô paterno Romão José Batista e Antônia Maria de Jesus, do que para constar mandei fazer este assento em que me assino. Manuel Joaquim Aires do Nascimento”. 
      Há no registro um engano. Como se sabe, o nascimento do Padre Cícero foi sempre comemorado a 24 de março. Quando de sua estada em Roma, em carta datada de 24 de março de 1898, endereçada a sua mãe, o próprio Padre Cícero escreveu: “Hoje, que faço 54 anos e véspera da anunciação da Mãe de Deus…”

Um Historiador explorou essa troca de datas
Dois bispos: Dom Edimilson Neves (de Tianguá) e Dom Gilberto Pastana (de Crato) examinam a pia de batismo, da Catedral de Crato,  na qual, provavelmente, o Pe. Cícero foi batizado
     Otacílio Anselmo, no livro “Padre Cícero Mito e Realidade” enxergou nessa troca um sinal da “vaidade doentia” do famoso sacerdote. Segundo Otacílio, feito com o intuito de vincular seu aniversário natalício ao dia 25 de março, quando a Igreja Católica festeja a Anunciação à Virgem Maria. Ora se o Pe. Cícero tivesse tido essa intenção, teria logo mudado para o dia 25, data da efeméride. Já o médico-historiador cratense Irineu Pinheiro, autor de “Efemérides do Cariri” fez constar neste livro: “Sempre sua família, seus amigos e ele próprio festejaram seu aniversário natalício no dia 24 de março…”.
     Controvérsias à parte, o registro no livro de batismo dando a data de 23, ao invés de 24 de março, pode ter sido apenas um lapso normal, bastante corriqueiro nas anotações nos Livros de Batismo de antigamente, fruto, quem sabe, de pequeno engano na anotação do vigário Manuel Joaquim Aires do Nascimento, quando da transcrição.  Sabe-se que, naqueles tempos, os registros da Igreja eram anotados manualmente. Usava-se, para tanto, canetas de bico de pena, que eram mergulhadas no tinteiro. As palavras escritas eram enxugadas com um mata-borrão. Antes de efetuarem os registros dos batizados já realizados, os padres faziam rápidas anotações em folhas de papel almaço, as quais, depois, eram transcritas no Livro de Batizados.  
       O Vigário de Crato talvez tenha se equivocado anotando “23” ao invés de 24 de março no tocante a data de nascimento de Cícero Romão Batista.

Outra controvérsia: em que casa nasceu o Padre Cícero? 
Palácio Episcopal Bom Pastor, em Crato, provável local do nascimento do Padre Cícero
    Outra divergência, entre os historiadores regionais, diz respeito a residência onde teria nascido, na cidade do Crato, o Padre Cícero Romão Batista. A primeira versão - defendida por Irineu Pinheiro - diz que o famoso sacerdote veio ao mundo numa casa, do lado do sol, existente na atual Rua Miguel Limaverde. A casa pertencia ao coronel Pedro Pinheiro Bezerra de Menezes, e posteriormente fora desmembrada em duas residências. Ambas demolidas, quando do alargamento daquela rua, no início da década 1980, na fúria insana de destruir o que restava do patrimônio arquitetônico do Crato, para dar lugar à passagem de veículos automotores.
     A outra versão defende que o Padre Cícero nasceu numa casinha, no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal, na atual Rua Dom Quintino, à época denominada de Rua das Flores. Irineu Pinheiro defendia o imóvel da Rua Miguel Limaverde, como o local do nascimento do Padre Cícero, baseado em depoimento de uma escrava da família do sacerdote, conhecida como “Teresa do Padre”, mulher humilde e bastante estimada na cidade de Juazeiro do Norte, onde gozava a fama de uma pessoa virtuosa e de credibilidade.
      Entretanto, o Padre Antônio Gomes de Araújo, contestou a versão de Irineu Pinheiro escrevendo: “Teresa do Padre, já começava a mergulhar no crepúsculo da própria memória, cuja desintegração começara”. Ou seja, a boa velhinha caminhando para os cem anos de idade, já não dominava mais a própria memória, deficiência física a que estamos sujeitos todos nós, os seres humanos, quando a velhice nos domina".
       A versão de que o Padre Cícero nasceu numa casinha simples, onde hoje é o Palácio do Bispo, tem diversos defensores. Segundo depoimento prestado, ao Padre Antônio Gomes de Araújo,  pelo cônego Climério Correia de Macedo (incluído no livro A Cidade de Frei Carlos) afirmou o cônego: “Minha tia paterna, Missias Correia de Macedo, cortou o cordão umbilical do Padre Cícero numa casa que foi substituída pelo palácio de Dom Francisco" (referia-se ao atual Palácio Episcopal construído por Dom Francisco de Assis Pires, segundo bispo da diocese do Crato). 
      E continua Padre Gomes no seu livro citado: “É corrente que, no chão em que se ergue aquele palácio, havia de fato uma casa, que foi cenário, por exemplo, da recepção do Padre Cícero quando este chegou do Seminário de Fortaleza, ordenado sacerdote, bem como das festas que envolveram a celebração de sua primeira missa. É certo que dita casa pertenceu ao major João Bispo Xavier Sobreira (...) com sua morte a dita casa passou à viúva, dona Jovita Maria da Conceição. Seus herdeiros venderam a casa a esta diocese”.
      Assim, tudo está a indicar que o Padre Cícero veio ao mundo na casinha simples, entre fruteiras, localizada no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal. Deixamos nossa sugestão para que o Governo do Ceará e a Prefeitura do Crato providenciem a colocação de uma placa, assinalando o local onde nasceu um dos mais conhecidos sacerdotes católicos do Brasil, o ilustre filho do Crato, Padre Cícero Romão Batista. É uma forma de preservar a memória histórica de Crato, tão ultrajada e descaracterizada por administradores insensíveis e de poucos conhecimentos culturais...

quinta-feira, 14 de março de 2019





1) Os Bezerra de Menezes: a saga de uma família aristocrática

  
  
 Brasão da Família Bezerra
    O jornalista e escritor Carlos de Laet, em artigo publicado no “Jornal do Brasil”, do Rio de Janeiro, edição de 15 de novembro de 1914 escreveu: “Há uma nobreza do sertão (cearense) que estuda e sabe a sua genealogia. A família Bezerra (de Menezes) é nobre, em todo o rigor da acepção. (...) Sei que a “democracia” desdenha estas cousas: – e o mais curioso é que, ridicularizando questões genealógicas, no tocante à raça humana, cuidadosamente registra as procedências ancestrais dos cavalos de corrida. Supinas congruências democráticas!”.

     Alguns membros desse clã chegaram ao Cariri cearense e aqui fizeram história, iniciada com a figura emblemática do seu mais expressivo representante– o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro. Este título foi outorgado a Leandro pelo Imperador Dom Pedro I, em reconhecimento à lealdade do grande caririense à causa monárquica, no episódio da Revolução Republicana Pernambucana de 1817.
       Tinha razão Carlos de Laet. Já os historiadores Daniel Walker e Renato Casimiro escreveram o livro  “A Família Bezerra de Menezes– Fundação e Desenvolvimento de Juazeiro do Norte” (ABC Editora, 2011– 319 páginas) onde conta a saga desse clã aristocrático, oriundo da península Ibérica, e que se transportou para o Brasil no início da nossa colonização.

      Alguns membros desse clã chegaram ao Cariri cearense e aqui fizeram história, iniciada com a figura emblemática do seu mais expressivo representante–o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro.

2) Presença dos Bezerra de Menezes na Monarquia e na República brasileira

     Plínio Corrêa de Oliveira  definiu muito bem o papel dessas famílias rurais nos albores do Brasil: “A Coroa portuguesa, movida pelo desejo de estimular o plantio da cana-de-açúcar – e assim consolidar a colonização e o povoamento do território, como também auferir ganhos econômicos – concedeu aos plantadores, que tivessem nas suas terras os engenhos apropriados para a produção do açúcar, algumas prerrogativas da antiga nobreza. Estes plantadores – "Senhores de Engenho" – vieram a constituir uma classe aristocrática, uma nobreza de fato".

     Descendentes do Brigadeiro Leandro, os filhos do casal  José Bezerra de Menezes e Maria Amélia – que viveu em Juazeiro no século passado – ocuparam todos os cargos políticos da República, à exceção apenas da Presidência e Vice-Presidência do Brasil. Senão vejamos:Alacoque Bezerra foi Senadora; Adauto, Humberto e Orlando (cumpriram mandatos de Deputados Federais); Adauto Bezerra foi, ainda,  Governador e Vice-Governador do Ceará; Também Humberto foi Vice-Governador do Estado; Orlando e Adauto foram ainda deputados estaduais; Humberto e Orlando foram Prefeitos de Juazeiro e Leandro foi vereador nessa cidade.

Caririenses ilustres: O Juiz de Direito intelectual

   José Flávio Bezerra Morais (foto acima)  é o Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Crato. Além da fama de uma pessoa correta ele é portador da fama de ser um bom intelectual. É autor de mais de dez livros, dentre eles: “Milagres do Cariri” (1989); “Histórias que ouvi contar” (1993); “Histórias de exemplo e de assombrações” (1997); “Nas veredas do fantástico” (2002). Sobre o Padre-Mestre Ibiapina já escreveu dois livros: o romance “A Sombra do Laço” (que está na segunda edição) e a biografia “Padre Ibiapina: histórias maravilhosas”. Atualmente está escrevendo uma obra sobre o Imperador dom Pedro II, ainda hoje considerado “O maior dos brasileiros”.



    Flávio Morais nasceu em Milagres (CE) em 1970. Já foi Juiz de Direito no Estado da Bahia (entre 2004 e 2005). Mas a saudade telúrica o fez fazer concurso para exercer idêntica função no seu estado natal. Exerce também o magistério no curso de Direito da Universidade Regional do Cariri. Por conta do que escreveu participou da 44ª Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil, em Bologna, Itália. Pertence a diversas entidades culturais, dentre elas o Instituto Cultural do Cariri. Trata-se de um intelectual de valor, além de um homem de bem a toda prova.

O Cariri é um exemplo de sucesso na produção de frutas irrigada

    A empresa agrícola Sítio Barreiras, localizada no município de Missão Velha, surgiu, em 1996, fruto da ousadia dos seus fundadores. Trata-se da pioneira em bananicultura no Cariri. Hoje, a empresa mantém centros de distribuição da sua produção em Fortaleza, Recife, Salvador, Teresina e Feira de Santana. Além do centro de produção de Missão Velha, a empresa Sítio Barreiras mantém centros, também, em Cajuapara (no Maranhão) e Ponto Novo, na Bahia.

     O Sítio Barreiras foi premiado no Great Place to Work 2014 no Ceará e, em 2015, no Ceará e também na Bahia.

Municípios do Cariri: Abaiara
 Igreja Matriz do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, na cidade de Abaiara

      A elevação à categoria de vila, da atual cidade de Abaiara, ocorreu através do Dec.Lei nº 448, de 20 de dezembro de 1938, com o nome oficial de “Pedro Segundo”, em homenagem ao segundo Imperador do Brasil.  Naquela época a República ainda tinha certa credibilidade e o patrulhamento ideológico contra as coisas da Monarquia era mais forte do que hoje. Daí porque o nome Pedro Segundo foi substituído por “Abaiara”, que, na língua indígena, significa: “Homem Ilustre”. Dessa maneira, ainda de forma dissimulada, Abaiara continua homenageando o Imperador Dom Pedro II. Já a sua elevação à categoria de Município deu-se consoante Lei nº 3.921, de 25 de novembro de 1957, vindo a ser instalado a 25 de março de 1959. 

        Trata-se de um município pequeno, cuja economia provém das atividades agrícolas. Tem como Padroeira o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, a única denominação de paróquia do Cariri.

Peças valiosas do patrimônio histórico-artístico-religioso do Cariri
 Imagenzinha da Mãe do Belo Amor, a primeira a ser venerada em Crato, à época da Missão do Miranda


   Existem na Catedral de Crato três imagens da Virgem Maria, as quais –ao longo da existência desta cidade – foram veneradas como Padroeira. Todas, esculpidas em madeira, encontram-se em excelente estado de conservação. A origem da atual Catedral da Diocese de Crato remonta a uma humilde capelinha de taipa, coberta de palha, construída, por volta de 1740,  por Frei Carlos Maria de Ferrara (frade capuchinho)  dedicada à Santíssima Trindade e, de modo especial, a Nossa Senhora da Penha e a São Fidelis de Sigmaringa (Padroeira e Co padroeiro de Crato, respectivamente). Durante os 379 anos de existência de Crato, essas três imagens da Virgem Maria compartilharam do cotidiano dos fiéis católicos residentes na cidade citada.


"Imagem Histórica" de Nossa Senhora da Penha, a segunda a ser venerada

   A primeira é uma pequena estatueta, conhecida como A Mãe do Belo Amor, medindo cerca de 40 centímetros que foi venerada de 1740 – primórdios da Missão do Miranda, núcleo urbano que deu origem a Crato – até 1745, quando aqui chegou a – segunda imagem, doada pelos frades capuchinhos do Convento da Penha de Recife. Esta segunda imagem – chamada histórica – havia chegado a Recife em 1641, aprisionada que fora por corsários protestantes, na costa da Guiné – na África – e transportada para a capital do o então Brasil Holandês.
Terceira e atual imagem de Nossa Senhora da Penha, a "Imperatriz e Padroeira" dos cratenses

    A terceira (e atual) foi adquirida em 1921, pelo primeiro Bispo de Crato, Dom Quintino. No entanto essa bela escultura ficou guardada durante 17 anos, pelo fato de a população cratense não ter aceitado a substituição da segunda imagem. Introduzida no altar-mor somente em 1939, pelo segundo Bispo de Crato, Dom Francisco Pires, a atual estátua vem sendo venerada há 80 anos como “Imperatriz e Padroeira” de Crato e da Diocese.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Estudos feitos sobre a flora e fauna do Cariri no século 19
1)  George Gardner

  Crato, 1859 (aquarela de José Reis)

    O primeiro a visitar o Cariri foi George Gardner, Naturalista, Botânico Memorialista, Intelectual, Pesquisador, Escritor, Ensaísta e Cientista inglês, nascido em Glasgow, Escócia. Muito jovem, aos 24 anos, em 1836, ele iniciou uma visita de estudos ao então vasto e importante Império do Brasil. Fruto dessa viagem – feita com o objetivo de estudar, observar e pesquisar o Império dos Trópicos – foi a publicação, em 1846, três anos antes da sua morte, de um livro somente um século depois traduzido para o Português por Albertino Pinheiro, com o título Viagem ao Interior do Brasil. (São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1942. 468 p.)
    Ao final da tarde do dia 9 de setembro de 1838, após ter cavalgado sobre terra plana e arenosa, de ter contemplado grandes plantações de cana, onde sentiu o cheiro do mel vindo dos engenhos de rapadura do Cariri, a invadir a atmosfera com seu aroma adocicado, George Gardner avistou Crato. Extasiado com a beleza da localidade, ele escreveu as linhas abaixo:
 “Impossível descrever o deleite que senti, ao entrar neste distrito, comparativamente rico e risonho, depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma região que, naquela estação, era pouco melhor que um deserto. A tarde era das mais belas que me lembra ter visto, com o sol a sumir-se em grande esplendor por trás da Serra do Araripe, longa cadeia de montanhas, a cerca de uma légua para Oeste da Vila, e o frescor da região parece tirar aos seus raios o ardor que pouco antes do poente é tão opressivo ao viajante, nas terras baixas.
A beleza da noite, a doçura revigorante da atmosfera, a riqueza da paisagem, tão diferente de quanto, havia pouco, houvera visto, tudo tendia a gerar uma exultação de espírito, que só experimenta o amante da natureza e que, em vão eu desejava fosse duradoura, porque me sentia não só em harmonia comigo mesmo, mas “em paz com tudo em torno”.
    2) Francisco Freire Alemão
   O segundo botânico a visitar o Cariri foi Francisco Freire Alemão (foto ao lado). 
    Segundo monografia da professora Ediane dos Santos Nobre, e fruto da sua participação no  Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro: “Francisco Freire Alemão, botânico fluminense, chegou à pequena cidade do Crato, no sul do Ceará, no final de 1859, como presidente da Comissão Científica de Exploração das Províncias do Norte criada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IGHB) em 1856. A Comissão tinha como objetivo coletar dados sobre a fauna e flora brasileira. Essa iniciativa coadunava com um projeto nacionalista que visava ―conhecer em detalhe a geografia, os recursos naturais e as populações [...] como também instituir um discurso de saber, de cariz nacional e devidamente autorizado para inserir o país no prestigioso âmbito da comunidade científica internacional”.
    Chefe da seção botânica, Freire Alemão tinha como missão coletar exemplares da flora brasileira e embora a expedição não tenha concluído sua missão, os relatos deixados por ele em sua passagem pelo estado cearense interessam pela riqueza de detalhes sobre o cotidiano local (...) Na cidade do Crato, principal cidade do Cariri cearense, Freire Alemão ficou por dois meses –intercalando viagens para outros lugares –, entre dezembro de 1859 e março de 1860. 

 Patrimônio histórico do Cariri: A igreja de Santo Antônio de Barbalha
A Igreja Matriz de Santo Antônio, localizada na cidade de Barbalha, é um dos templos católicos mais bonitos do Cariri. Aquela igreja barbalhense é o cenário da mais conhecida Festa de Santo Antônio, do Estado do Ceará. Bonita, limpa, bem conservada, a Igreja de Santo Antônio é uma das atrações do Centro Histórico de Barbalha, e atrai multidões, no mês de junho, nos festejos do seu padroeiro. Este templo está localizado na Rua da Matriz e ao seu lado encontra-se hasteado o famoso Pau da Bandeira, representando o tradicional evento que ocorre todos os anos na cidade e é divulgado pela mídia televisa brasileira.

História: como foi o regime de escravatura no Cariri
    No Cariri cearense, consoante tradição do imaginário popular, os escravos negros – na sua maioria – não sofriam a opressão e impiedade, como gemiam seus irmãos de raça nos cativeiros de outras províncias. Talvez por não existir no Cariri cearense uma elite econômica como ocorria nas províncias de Pernambuco, Bahia, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, dentre outras). No Cariri, os escravos (existiam as exceções, é claro) eram quase "gente da família". Esses negros compartilhavam - com humildade e submissão - os acontecimentos alegres e tristes dos seus senhores.

O episódio que denominou o Ceará de “Terra da Luz”
Monumento à libertação dos escravos no Ceará, localizado na cidade de Redenção

   Aliás, a província do Ceará foi a primeira do Brasil a abolir a escravidão da raça negra. Este episódio histórico, que ainda hoje nos enche de orgulho, levou José do Patrocínio – durante uma conferência, em favor da abolição – a denominar o Ceará de "Terra da Luz, Berço da Liberdade”. Como “Terra da Luz” ficou sendo conhecido o Ceará até os dias de hoje. Isto prova que parcela da sociedade brasileira de então também entendia que a escravidão se constituía numa gritante injustiça.

 Região do Cariri não tem tradição carnavalesca
   Diferente de outras regiões brasileiras, o Cariri não inclui entre suas características culturais as tradições carnavalescas. Tirante a cidade de Várzea Alegre (onde os carnavais têm um pouco de participação popular) nas demais cidades do Sul do Ceará o carnaval se resume só a festinhas restritas com poucos “foliões”. O que vem a calhar para os tempos difíceis de hoje, quando o Brasil teve um PIB pífio (crescimento de só 1,1%) e contabiliza mais de 12 milhões de desempregados.

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