sexta-feira, 28 de junho de 2019

Cariri: Caldeirão Cultural do Ceará
 Banda cabaçal em Barbalha

     De há muito, a região do Cariri é considerada o Caldeirão Cultural do Ceará. Esse "caldeirão" é o somatório dos saberes e celebrações que formam o Patrimônio Imaterial da nossa região, com destaque para as manifestações religiosas do povo caririense. Parte desse acervo veio de milhares de romeiros que, atraídos pela herança espiritual do Padre Cícero, fizeram de Juazeiro do Norte o sacrário de seus costumes e tradições. Muitos deles se fixaram no Cariri, trazendo para cá suas tradições populares, as quais, se juntaram ao caldo cultural que aqui já existia desde o início de 1700, fruto da colonização portuguesa. 
     Este mês de junho que hoje finda, foi permeado das tradições católicas mais autênticas do Cariri. Começou com a festa de Santo Antônio, em Barbalha. Teve continuidade com as festas de São João e São Pedro. São as três festas joaninas. Na abertura da Festa de Santo Antônio, o centro histórico de Barbalha ficou cheio de grupos da tradição popular como as bandas cabaçais, os penitentes, os reisados e as lapinhas, dentre outros. No Cariri, essas festas são comemoradas desde a nossa povoação, no início do século XVIII, mas também sofreram adaptações e acréscimos por conta da imigração de contingentes populacionais oriundos da chamada Nação Romeira que se espalha pelo interior do Nordeste.

Festa do Pau da Bandeira, em Barbalha
 O patrimônio cultural do Cariri na visão de Oswald Barroso

      Poucas pessoas definiram tão bem o patrimônio cultural do Cariri como Oswald Barroso. É dele o conceito a seguir transcrito:
      “Poucas regiões do Brasil têm, como o Cariri, uma natureza tão pródiga, uma história tão rica e uma cultura popular tão diversificada. Festas, folguedos, ritos, mitos, lendas, narrativas orais, artesanatos, mestres brincantes e de ofício, santuários e sítios sagrados, marcos históricos e conjuntos arquitetônicos, sítios naturais e redutos ecológicos, tradições culinárias, passeios e belas paisagens, feiras e mercados, enfim, um número infinito de possibilidades e atrações a serem exploradas. Junte-se a isto uma vida intelectual e acadêmica em pleno crescimento, com sólidas instituições públicas, universidades, artistas, escritores e um plantel de profissionais técnicos e liberais da melhor qualidade”. 

O que é “Patrimônio Cultural Imaterial”
                                                  Reisado no bairro do Horto, em Juazeiro

    Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura– UNESCO, o “Patrimônio Cultural Imaterial”  de um povo é transmitido de geração em geração e é constituído de “práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais a eles associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” 
      Os bens culturais de natureza imaterial estariam incluídos nas seguintes categorias: Saberes - conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; Formas de expressão - manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; Celebrações - rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; Lugares - mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas.

História:  como surgiu a devoção a Nossa Senhora da Penha
   Não é só em Crato, Campos Sales e Maranguape (no Ceará) que Nossa Senhora da Penha tem grandes festas religiosas, já que é a padroeira dessas cidades. A origem dessa devoção, comemorada entre nós no dia 1º de setembro, surgiu quando Nossa Senhora apareceu a um agricultor chamado Simão Vela, no oeste da Espanha, numa serra chamada Penha de França., por volta de 1434. Da Espanha essa devoção passou para Portugal e desta nação veio para o Brasil, na época colonial. 
    Em outras localidades brasileiras, a festa de Nossa Senhora da Penha ocorre no dia 8 de setembro. É o caso de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, cuja comemoração é considerada, pela Igreja Católica, como a “terceira maior festa religiosa do Brasil”, ficando atrás somente da comemoração que homenageia a Padroeira do Brasil, em Aparecida (SP), e do Círio de Nazaré, em Belém, no Pará.
      Nossa Senhora da Penha é ainda a padroeira da cidade de São Paulo e Itapira (ambas em SP), Serra Talhada (PE) e Resende Costa (MG), dentre outras.

E como essa devoção veio para o Cariri
     A atual catedral de Crato remonta a uma humilde capelinha de taipa, coberta de palha, construída – por volta de 1740 – pelo capuchinho italiano, Frei Carlos Maria de Ferrara. Este frade foi o fundador do aldeamento da Missão do Miranda, núcleo inicial da atual cidade de Crato, criado para abrigar e prestar assistência religiosa às populações indígenas que viviam espalhadas ao norte da Chapada do Araripe.
     Em janeiro de 1745, conforme pesquisa feita pelo historiador Antônio Bezerra, foi colocada numa das paredes da então capelinha de Nossa Senhora da Penha uma pedra com histórica inscrição. Tratava-se do registro da consagração e dedicação do pequeno e humilde templo, início da atual catedral de Crato. A inscrição foi feita por frei Carlos Maria de Ferrara, e nela constava que a capelinha fora consagrada a Deus Uno e Trino e, de modo especial, a Nossa Senhora da Penha e a São Fidelis de Sigmaringa, este último oficializado – no governo episcopal de Dom Fernando Panico – como o Co-padroeiro de Crato. 

         Abaixo, o texto constante da inscrição rupestre, infelizmente desaparecida:

“Uni Deo et Trino
Deiparae Virgini
Vulgo – a Penha
S Fideli mission.º S.P.N. Fran, ci Capuccinor.m
Protomartyri de Propaganda Fide
Sacellum hoc
Zelo, humilitate labore
D. D.
Sup. Ejusdem Sancti.i Consocy F.F.
Kalendis January
Anno Salutis  MDCCXLV”.

A devoção a Nossa Senhora das Dores
   Podemos afirmar, com toda segurança, que a cidade de Juazeiro do Norte – hoje conhecida em todo o Brasil, graças à figura do Padre Cícero Romão Batista – teve seu início como fruto da devoção a Nossa Senhora das Dores. Pois, a exemplo da maioria das cidades brasileiras de antanho, Juazeiro do Norte também nasceu em torno de um templo católico. A escritora Amália Xavier de Oliveira assim descreveu os primórdios desta cidade, no seu livro “O Padre Cícero que eu conheci”:
     “Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda, perto da casa já existente”.

A imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores adquirida pelo Brigadeiro
    A primeira imagem de Nossa Senhora das Dores, venerada na capelinha de Joaseiro, foi adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro em Portugal. E foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e, posteriormente, pela povoação do “Joaseiro”, por cerca de 60 anos. 
    Zélia Pinheiro, escrevendo - no opúsculo Sesquicentenário de Fé - sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra: “(…) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá”.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Iniciadas as obras da 3ª etapa do Anel viário do Crajubar
 As obras da 3ª etapa do anel viário passam em cima da divisa de Crato-Juazeiro do Norte

    A terceira etapa do Anel Viário do Cariri, no trecho Contorno de Juazeiro – Barbalha, acesso pela fronteira de Crato foi reiniciada. A obra contempla a implantação de 6,84 quilômetros de rodovia duplicada, com serviços de terraplenagem, pavimentação, sinalização, drenagem e obras d’arte correntes, um viaduto e proteção ambiental.
     Segundo fontes do Governo do Ceará, essa nova avenida (que ligará o bairro São José à Barbalha) beneficiará toda a Região Metropolitana, pois facilitará o tráfego, ligando o Norte ao Sul e evitando passar pelo bairro Lagoa Seca, em Juazeiro do Norte.  Essa nova etapa vai acrescentar enorme área para o crescimento urbano do Crajubar, facilitando, inclusive, a construção de um condomínio residencial de luxo, na fronteira Crato-Juazeiro: o Alphaville. O Anel Viário do Crajubar terá, ao final, cerca 16 km de extensão. A previsão é que a obra seja concluída no segundo semestre de 2019.

Vila da Música do Belmonte muda de nome
 Vila da Música Mons. Ágio Augusto Moreira

     Durante a missa do velório de Monsenhor Ágio, ocorrida no último dia 13, o governador Camilo Santana anunciou que a Vila da Música, localizada no bairro Belmonte em Crato, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), ganhará agora um novo nome: “Vila da Música Monsenhor Ágio Augusto Moreira”. A mensagem 8.398, que apresenta a proposta, já foi encaminhada à Assembleia Legislativa e aguarda tramitação. A Vila da Música do Belmonte foi o primeiro equipamento cultural construído pelo Governo do Ceará no interior do Estado. Resultou de uma parceria entre a escola de música Sociedade Lírica de Belmonte (Solibel), fundada pelo Mons. Ágio Augusto Moreira na década de 1970 e o Governo do Ceará, por meio da Secult. 

 Curso de Museologia Social   



Museu Vivo do Padre Cícero, o museu mais visitado do Cariri. Em segundo lugar está o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri

      De repente, não mais que de repente como diria o poeta, a comunidade da conurbação Crajubar começa a despertar para a importância de preservar sua história e o patrimônio arquitetônica de suas cidades. A Universidade Regional do Cariri–URCA em parceria com a Secretaria de Cultura de Crato realizará nos próximos dias 29 de junho e 05 e 06 de julho, do corrente ano, um curso de Museologia Social, no Campus do Pimenta da URCA em Crato. As inscrições podem ser realizadas on line,  na Secretaria de Cultura de Crato, pelo link:https://forms,gle/LrdbAT2zwrmz123z6.

 E por falar no patrimônio arquitetônico de Crato

  Como era e como vai voltar a ser a fachada do Palácio Episcopal

    Durante as décadas 30 e 40 do século passado, alguns prédios construídos na cidade de Crato foram erguidos dentro do estilo da “Arte Déco”. Algumas construções desse estilo, em Crato que merecem destaque: o Edifício do extinto Banco Caixeiral (hoje aproveitado como loja comercial), o Palácio Episcopal Bom Pastor, o prédio dos Correios e Telégrafos, a igreja de São Vicente Ferrer, o  descaracterizado Crato Hotel e o Edifício Lucetti. Infelizmente a maioria desses prédios sofreram o processo de descaracterização ao longo dos tempos. A igreja de São Vicente desde a década 60 foi coberta por azulejos usados em cozinhas e banheiros.

Fachada da igreja de São Vicente Férrer na década 50 do século passado

  Como ficou depois da colocação dos azulejos na década 60

       Segundo o arquiteto Waldemar Arraes de Farias; “É lamentável a falta de uma política destinada à conservação do patrimônio histórico e arquitetônico de Crato. Aqui se destrói do dia para noite porque não tem ninguém para defender".  Os que resistem, a essa destruição, não têm nenhum tipo de amparo, nem mesmo de uma Lei Municipal, que assegure essa preservação. De concreto consta apenas o tombamento (pela Secretaria de Cultura do Ceará) da Casa de Câmara e Cadeia (na Praça da Sé), da antiga estação ferroviária (no Largo da RFFSA) e do Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, lugar onde viveu o Beato José Lourenço e sua comunidade, na zona rural do distrito Dom Quintino. 

Uma boa notícia

    Ultimamente Waldemar Arraes vem acompanhando o serviço de restauração do Palácio Episcopal Bom Pastor, antiga residência dos bispos de Crato. Este imóvel teve sua construção iniciada em 5 de junho de 1937. O projeto de arquitetura é de autoria do escultor italiano Agostino Balmes Odísio, que também foi responsável pelos serviços de direção e administração da construção desse palácio, concluída em 1940. Na falta de uma política pública de conservação de imóveis, a Diocese assumiu esta nobre missão.

Um prédio no estilo “Art Déco”    
 Obras de restauro da fachada do Palácio

   Segundo Waldemar Arraes Farias, o Palácio Episcopal, patrimônio da Igreja Católica, é um dos poucos exemplares da arquitetura no estilo “Art Déco” ainda existentes na cidade do Crato. Faz parte da história da Igreja nesta cidade e, consequentemente, da história do município. O imponente edifício, lugar na memória afetiva dos cratenses e é um testemunho atual do desenvolvimento da cidade durante os anos de 1930 a 1950 do século XX. 
       Explica Waldemar: “Para iniciar qualquer projeto de restauro, precisamos conhecer bem o objeto a ser restaurado e sua história no intuito de obter suporte nas futuras decisões. O trabalho de restauração foi desenvolvido a partir de um estudo arquitetônico detalhado feito através de pesquisa histórica, iconográfica, prospecções físicas e levantamento arquitetônico. No trabalho de recuperação das fachadas do Palácio Episcopal foi tomada a decisão da retirada do revestimento de azulejos para resgatarmos a originalidade estilística do edifício, decisão esta baseada em preceitos técnicos e teóricos adequados”.

sexta-feira, 14 de junho de 2019


Cariri perde Mons. Ágio Augusto Moreira
  
     Ele viveu 101 anos, 4 meses e 7 dias. No último dia 12, Mons. Ágio tranquilamente – como sempre viveu – faleceu em Crato, cidade onde viveu desde que foi ordenado sacerdote há 75 anos. Nascido em Assaré, a 05 de fevereiro de 1918, Mons. Ágio era reconhecido como um sacerdote humilde, virtuoso e fiel em tudo que fazia. 
    Ele fez da música seu instrumento de evangelização. Seu corpo foi sepultado na Capela Nossa Senhora das Graças, no bairro Belmonte, uma igreja por ele construída.
     Mons. Ágio foi fundador da Ele Sociedade Lírica do Belmonte–Solibel, da   Escola de Educação Artística Heitor Villas Lobo e da Orquestra Sinfônica Padre Davi Moreira, todas instaladas no Belmonte, em Crato. Escreveu mais de 20 livros.  Aos 100 anos, lançou o livro “Padre Cícero Romão Batista: O maior líder espiritual do Nordeste Brasileiro”, sua última obra. Foi professor de canto gregoriano, italiano, grego e francês no Seminário São José em Crato e ministrou outras disciplinas no Seminário São José, Colégio Estadual Wilson Gonçalves e Faculdade de Filosofia do Crato.
       A Vila da Música, primeiro equipamento estatal de cultura no interior, construído por iniciativa do governador Camilo Santana e inaugurado em março de 2017, representa a concretização e continuidade do trabalho iniciado pelo Mons. Ágio com a Solibel, 45 anos atrás.

Caririenses constroem pequenas chácaras na Chapada do Araripe
 Chácaras na Chapada do Araripe
     Virou modismo, mas pouca gente, residente na Região Metropolitana do Cariri, tem conhecimento do que vou relatar. A rodovia asfaltada que liga a cidade de Crato ao distrito de Santa Fé (a CE 561, com início logo após o Campus do IFCE-Crato – antigo Colégio Agrícola – e que se estende por quase 13 Kms) proporcionou o surgimento de centenas de chácaras, localizadas em plena Chapada do Araripe. Naquele trecho, no lugar dos antigos sítios, surgiram vários loteamentos. E, em meio à luxuriante floresta da chapada com o seu clima ameno, foram erguidas casas no meio dos terrenos. Os mais abastados constroem edificações mais vistosas. Mas, a maior parte delas são casas pequenas, propriedades de pessoas da classe média.  Grande é o número de juazeirenses (a maioria) e de cratenses, que agora desfrutam, nos fins-de-semana, do clima e vegetação da Chapada do Araripe.
     No sentido para Santa Fé, à esquerda da rodovia CE 561, logo após a entrada após o Campus do IFCE, e nas proximidades dos sítios Santo Antônio/Pulo de Gavião, surgiu uma pequena vila. Nela, nos fins de semana, já tem restaurantes e barzinhos funcionando. Também existe uma capelinha católica. Aliás, o mais bem-sucedido plantio de flores ornamentais do Cariri fica naquela região. Trata-se do Condomínio Sítio Santo Antônio, propriedade de uma empresa funerária de Juazeiro do Norte. Lá o cultivo de flores abastece velórios e enterros no Crajubar (conurbação Crato–Juazeiro– Barbalha). 
 Chácaras em plena Chapada do Araripe

Um caririense de valor: Prof. Álvaro Madeira

   Conheci-o já velhinho. Residia na Rua Nelson Alencar, onde era tratado com carinho e respeito pela esposa, filhos e netos. Era chamado de Doutor Álvaro pela população. Graduado em Farmácia no Rio de Janeiro, foi professor por vocação e opção – durante décadas – no Ginásio de Crato (depois denominado Colégio Diocesano), Colégio Santa Teresa de Jesus e Escola Técnica de Comércio. Álvaro Rodrigues Madeira nasceu no Rio de Janeiro, em 9 de julho de 1892 e faleceu em Crato, aos 77 anos de idade, em 21 de novembro de 1969. 
     Seu pai era o médico Marcos Madeira, responsável pelo exame na cavidade bucal da Beata Maria de Araújo, durante a primeira comissão nomeada pelo bispo Dom Joaquim para apurar o chamado “Milagre da Hóstia” ocorrido em Juazeiro do Norte.
      O Professor Álvaro Madeira era muito respeitado na comunidade cratense mercê sua postura de católico praticante e cidadão de bem, além de sua reconhecida bondade e simplicidade. Viveu sempre modestamente e nesse ambiente criou os seis filhos – frutos do seu casamento com a senhorita Lígia Carvalho Madeira: Maria Lígia, Maria Lúcia, Vicente de Paulo, Madre Elvira (pertencente à Congregação das Filhas de Santa Teresa, in memoriam), Almerinda e Francisco Alberto. Com exceção deste último – que é médico – os demais seguiram o pai no exercício do magistério. O Crato soube ser grato à memória do Professor Álvaro Rodrigues Madeira. No bairro São Miguel, uma rua – que começa na Pracinha do Detran e termina na Avenida Dom Francisco – tem o nome dele. Também existe uma escola de ensino infantil e fundamental denominada de Professor Álvaro Rodrigues Madeira, localizada no loteamento Franca Alencar, bairro Misericórdia, mantida pela Prefeitura Municipal de Crato.


Como foi o fim da antiga rivalidade entre Crato–Juazeiro do Norte?
 Prof. Otonite Cortez, ex-reitora da URCA
    A criação da Região Metropolitana do Cariri, a nova mentalidade dos jovens do Crajubar, os efeitos da globalização, dentre outros, sepultaram um fato existente até à década 80 do século passado: a rivalidade entre os habitantes de Juazeiro do Norte e Crato. Na sua monografia de Mestrado – “A construção da “cidade da cultura”: Crato (1889-1960) –, a ex-Reitora da URCA, Profa. Otonite Cortez abordou – de forma inteligente – a antiga rivalidade existente entre as cidades de Crato e Juazeiro do Norte. 
      Escreveu Otonite: “Chamava-nos igualmente atenção, a rivalidade com a cidade vizinha – Juazeiro do Norte – que transparecia nas falas cotidianas acerca dessa cidade” (...) “Essa rivalidade apresentou-se-nos, com maior nitidez, no processo de criação da Universidade Regional do Cariri–URCA, mormente na questão da definição da sua sede (reitoria). Naquele momento, percebíamos que os elementos, com os quais os representantes das duas cidades lutavam, eram de natureza absolutamente diferentes: os representantes do Crato, liderados pela Professora Sarah Cabral, José Newton Alves de Sousa, e outros, ancoravam a luta na demonstração da tradição de superioridade do Crato no campo educacional. Juazeiro demonstrava a sua força econômica e eleitoral. Apoiados no prestígio de Antônio Martins Filho – “o cratense fundador de universidades” – a URCA foi fundada, estabelecendo-se sua sede no Crato. Vencia a tradição”.
 O tempo que as elites tinham força
 Crato na década 40 do século passado
      E continua Otonite: “Todavia, algumas questões permaneciam sem respostas convincentes. Quando tudo isso começou? Em que repousava a rivalidade com o Juazeiro? Por que o Crato, outrora considerada capital do Cariri, apesar de ter perdido a supremacia econômica e política na região, gozava de tanto prestígio quando se referia à cultura letrada e à civilidade? Onde residia a força de luta daquelas pessoas que tentavam manter esse prestígio do Crato? Que mecanismos eram usados, efetivamente, para isto?”
       Otonite foi encontrar a resposta no comportamento e atitudes das autodenominadas “boas famílias de Crato”. Estas se consideravam a “elite” da cidade. E, com etnocentrismo (nota do colunista: “etnocentrismo: visão de mundo própria da pessoa que considera a sua sociedade, sua nação, seu país ou grupo étnico superiores aos demais) olhavam com desdém o Juazeiro, que fora simples distrito de Crato, mas começava a trilhar novos caminhos, apesar da origem humilde e da simplicidade da maioria das novas famílias que para lá se transportaram. Escreveu Otonite: “Começamos a perceber que havia um discurso das elites cratenses no sentido de demonstrar o progresso e o pioneirismo da (sua) cidade. Percebíamos ainda que algumas palavras compareciam com muita frequência nos textos escritos sobre ao Crato e os cratenses: “adiantado”, “civilizado”, “culto”, “pioneiro”, “ordeiro”, “patriótico”, “herói/heroína”, “piedoso”, “liberal”, “espírito cívico”, etc.”.
 A mudança inexorável dos novos tempos
 Crato na década 50 do século XX
       E conclui Otonite: “Todavia, algumas questões permaneciam sem respostas convincentes. Quando tudo isso começou? Em que repousava a rivalidade com o Juazeiro? Por que o Crato, outrora considerada capital do Cariri, apesar de ter perdido a supremacia econômica e política na região, gozava de tanto prestígio quando se referia à cultura letrada e à civilidade? Onde residia a força de luta daquelas pessoas que tentavam manter esse prestígio do Crato? Que mecanismos eram usados, efetivamente, para isto? (...) Aos poucos, fomos percebendo que a construção da “cidade da cultura” era o resultado das estratégias daquele grupo, cuja identidade residia nas partilhas sociais e culturais dos seus membros, no fato de frequentarem os mesmos espaços de sociabilidade, e, sobretudo, nos mesmos desideratos em relação à cidade”.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Em que lugar da cidade de Crato nasceu o Padre Cícero?

     Duas versões são defendidas, entre os historiadores regionais, no que diz respeito a residência onde teria nascido – na cidade do Crato – o Padre Cícero Romão Batista. A primeira versão - defendida por Irineu Pinheiro - diz que o famoso sacerdote veio ao mundo numa casa, lado do sol, existente na atual Rua Miguel Limaverde. A casa pertencia ao coronel Pedro Pinheiro Bezerra de Menezes, e posteriormente fora desmembrada em duas residências. Ambas demolidas, quando do alargamento daquela rua, na fúria insana de destruir o que resta do patrimônio arquitetônico do Crato, e para dar lugar à passagem de veículos automotores. A outra versão, defendida pelo historiador Padre Antônio Gomes de Araújo – a que nos parece mais certa – defende que o Padre Cícero nasceu numa casinha, no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal Bom Pastor, na atual Rua Dom Quintino, à época Rua das Flores.

     Irineu Pinheiro defendia o imóvel da Rua Miguel Limaverde, como o local do nascimento do Padre Cícero, baseado em depoimento de uma escrava da família do famoso sacerdote, conhecida como “Teresa do Padre”, mulher humilde e bastante estimada na cidade de Juazeiro do Norte, onde gozava a fama de uma pessoa virtuosa e de credibilidade. 

A versão do Padre Antônio Gomes de Araújo
Palácio Episcopal Bom Pastor, na cidade de Crato, cuja fachada vem passando por restauração para voltar  ao desenho original. Neste local teria nascido o Padre Cícero.

     Esse sacerdote escreveu: “Teresa do Padre, já começava a mergulhar no crepúsculo da própria memória, cuja desintegração começara”, quando fez a afirmação a Irineu Pinheiro.  Ou seja, a boa velhinha caminhando para os cem anos de idade, já não dominava mais a própria memória, deficiência física a que estamos sujeitos todos nós, os seres humanos, quando a velhice nos domina. 
     Mas a versão de que o Padre Cícero nasceu numa casinha simples, onde hoje é o Palácio do Bispo, teve outros defensores. Segundo depoimento prestado pelo cônego Climério Correia de Macedo ao Padre Antônio Gomes de Araújo, e incluído no livro “A Cidade de Frei Carlos”, o cônego declarou: “Minha tia paterna, Missias Correia de Macedo, cortou o cordão umbilical do Padre Cícero numa casa que foi substituída pelo palácio de Dom Francisco" (referia-se ao Palácio Episcopal, já mencionado, construído por Dom Francisco de Assis Pires, segundo Bispo da Diocese do Crato).
      E continua Padre Gomes no seu livro citado: “É corrente que, no chão em que se ergue aquele palácio, havia de fato uma casa, que foi cenário, por exemplo, da recepção do Padre Cícero quando este chegou do Seminário de Fortaleza, ordenado sacerdote, bem como das festas que envolveram a celebração de sua primeira missa. É certo que dita casa pertenceu ao major João Bispo Xavier Sobreira (...) com sua morte a dita casa passou à viúva, dona Jovita Maria da Conceição. Seus herdeiros venderam a casa a esta diocese”. 
     Assim, tudo está a indicar que o Padre Cícero veio ao mundo na casinha simples, entre fruteiras, localizada no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal Bom Pastor, atualmente em serviços de restauração da sua bonita fachada, que voltará a ter o aspecto original da década 40 do século passado. 

Boa notícia: Palácio Episcopal Bom Pastor está sendo restaurado

 Fachada original do Palácio Episcopal Bom Pastor na década 40 do século passado

    Segundo o arquiteto e engenheiro responsável pela obra de restauração da fachada do Palácio Bom Pastor, Waldemar Arraes de Farias Filho, a finalidade desse trabalho é preservar a edificação na sua forma original. Segundo Waldemar: “O estilo arquitetônico será completamente mantido contribuindo para a preservação da história do edifício”. O certo é que este prédio histórico continuará sendo uma segunda opção para a residência oficial dos bispos da Diocese de Crato, enquanto a parte burocrática continuará funcionando na Cúria Diocesana, situada na Rua Teófilo Siqueira. Esta, fica atrás do velho palácio. Ambos os prédios possuem comunicação interna.
  Seria muito oportuno que o Departamento Histórico Diocesano Padre Antônio Gomes mandasse confeccionar uma placa, para ser colocada na fachada do Palácio, informando que ali nasceu o Padre Cícero.

 O Bispo-emérito de Crato
   Duas notícias (boas) sobre Dom Fernando Panico, 5º Bispo de Crato e responsável pela reconciliação da Igreja Católica com a herança espiritual do Padre Cícero. Primeira: desde 21 de maio último e até o próximo dia 18 de junho, Dom Fernando permanecerá recluso no Mosteiro São Bento, no Rio de Janeiro. Lá, Dom Fernando se prepara para ser um “oblato secular beneditino”.
   O “Oblato beneditino” é um cristão que, impulsionado pelo desejo de levar uma vida mais perfeitamente de acordo com o ideal do Evangelho, filia-se àquela família monástica, por um laço de ordem espiritual, a fim de poder, graças a esta filiação, participar dos bens espirituais daquela comunidade. Com isso, consolida uma comunhão vital, um acréscimo de fervor e de generosidade no serviço de Deus. Dom Fernando sempre teve profunda admiração pela Ordem de São Bento. E até pensou em ser beneditino antes de sua ordenação sacerdotal na congregação dos Missionários do Sagrado Coração.

Segunda notícia

       Pelos próximos três anos (2019–2021), Dom Fernando Panico será pároco (6 meses a cada ano) da Paróquia do Sagrado Coração do Sufrágio. Esta é a única igreja de Roma construída em estilo gótico e pertencente aos Missionários do Sagrado Coração. Dom Fernando ficará morando em Roma de novembro a abril. A igreja do Sagrado Coração do Sufrágio fica a dois quarteirões de Castel Sant’Angelo e da Via dela Conciliazione, que leva direto ao Vaticano. Mas, o mais interessante, é que revelo a seguir.  Na igreja que Dom Fernando vai ser pároco, existe um Museu das Almas do Purgatório. Estão expostos lá uma coleção de sinais do além, deixados por essas almas, que na maioria das vezes apareceram ardendo internamente a parentes ou irmãos de religião. Sempre pedindo orações para saírem do Purgatório, onde pagavam penas devidas a seus pecados, antes de irem para o Céu. Os brasileiros que visitarem Roma entre novembro e abril poderão visitar Dom Fernando e conhecer o único museu do mundo ligado ao tema do purgatório.
Igreja do agrado Coração do Sufrágio, em Roma, que terá Dom Fernando Panico como Pároco



Seminário sobre o Crato de Portugal e o Crato do Brasil
O Crato português, situado na região do Alentejo
O Crato brasileiro, localizado no Cariri cearense

     Será realizado, na cidade de Crato, nos dias 3 e 4 de outubro de 2019, o Seminário "O Crato Caririense e o Crato Alentejano: História, Cultura e Educação". O evento ocorrerá no Senac de Crato, como parte da disciplina “Etnoconhecimento e Educação Escolar”, ministrada na Universidade Regional do Cariri–URCA, pela professora Ariza Rocha. Esta, coordenará também o mencionado Seminário, que se propõe a divulgar fatos relacionados as duas cidades; a portuguesa e a brasileira.

      A história nos ensina que a atual cidade brasileira de Crato foi fundada em 1740, a partir da criação da Missão do Miranda. Essa “missão” surgiu para o aldeamento das populações indígenas que viviam no vale do Cariri. Em 21 de junho de 1764, a Missão do Miranda foi elevada à categoria de Vila, tendo seu nome mudado para Vila Real do Crato, em homenagem à vila homônima, existente na região do Alentejo, em Portugal. Com isso se cumpria o “Aviso de 17 de junho de 1762”, dirigido pela Secretaria dos Negócios Ultramarinos ao Governador de Pernambuco. Mencionado aviso autorizava o governador a criar novas vilas no Ceará, recomendando, entretanto, substituir a denominação dos povoados com nomes de localidades existentes em Portugal. 

        Já o Crato português é uma vila do Distrito de Portalegre e fica localizada na região do Alentejo. O Crato português foi conquistado dos mouros, em 1160, pelas tropas de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. 

Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, em Crato, será ampliada
Procissão de Nossa Senhora de Fátima que acontece no dia 13 de maio em Crato

   É antiga e intensa a devoção a Nossa Senhora de Fátima na cidade de Crato. O médico-historiador Irineu Pinheiro – no seu clássico “O Cariri”, página 272 – registra o abaixo transcrito:
 “No dia 3 de outubro de 1942 à tarde, trouxeram em procissão da Sé para o novo templo (igreja de São Vicente Ferrer) em andores, as imagens de São Vicente Férrer e Nossa Senhora de Fátima, em meio de fogos, vivas e palmas entusiásticas”. Noutro livro, “Efemérides do Cariri”, Irineu Pinheiro assim descreve a visita, em 1953, da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima à cidade de Crato: “Foi a maior manifestação religiosa a que assistiu o Crato desde sua fundação”.   
     Fruto dessa visita, entre outras coisas, foi a inauguração, em Crato, do Aeroporto de Fátima (em plena Serra do Araripe) e a construção da Igrejinha de Fátima, localizada na Rua Nossa Senhora de Fátima, no Pimenta. Em 1967, o Prefeito de Crato, Humberto Macário de Brito, construiu um monumento a Nossa Senhora de Fátima, no velho Aeroporto, cuja escultura é de autoria do renomado escultor jardinense, José Rangel. Recentemente, foi inaugurada em Crato a maior estátua, de todo o mundo, de Nossa Senhora de Fátima. O bairro onde se ergue este monumento também foi denominado oficialmente de “Nossa Senhora de Fátima”.
      No último dia 13 de maio, foi anunciado que igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, sede da paróquia (a única com essa denominação na Diocese de Crato) vai ser ampliada numa campanha que envolverá todos os devotos da Virgem de Fátima na cidade de Crato.



quinta-feira, 30 de maio de 2019

O violino do Padre Cícero
    Este famoso sacerdote – nascido em Crato e existência quase toda vivida em Juazeiro do Norte – continua sendo o arquetípico do caririense: religioso, temente a Deus, caritativo e de boa índole.  Episódios da vida desse invulgar sacerdote continuam a ser “redescobertos”. A fama do Padre Cícero só faz crescer, principalmente depois da “reconciliação” que a Igreja Católica adotou no tocante à herança espiritual do sacerdote.
    Tempos atrás foi publicado por Joaquim Arraes de Alencar Pinheiro Bezerra de Menezes (carrega no DNA a boa índole de paz, honradez e benquerença do pai, Cesar Pinheiro Teles. Joaquim tem também no sangue os ideais políticos da defesa social dos pobres,  herança da família materna, cujo exemplo maior foi seu tio, o ex-governador  Miguel Arraes de Alencar) um artigo sobre um violino que o Padre Cícero adquiriu quando de sua única visita à Roma, para se defender das acusações e sanções impostas pelo Bispo de Fortaleza.
       Como dizia, Joaquim Pinheiro resgatou, naquele escrito, que o Padre Cícero trouxe de Roma dois violinos. Um deles foi presenteado a um parente do sacerdote. O outro, Pe. Cícero deu, em 1929, ao seu afilhado (por quem o sacerdote tinha grande afeto) o tabelião Antônio Teófilo Machado (mais conhecido por Machadinho), titular de um cartório em Crato durante décadas no século passado.

Sobre o violino
     Trata-se de um Maggini, modelo 1715, provavelmente adquirido de segunda mão, uma vez que a marca havia deixado de ser fabricada décadas antes de ser adquirido pelo Padre Cícero. Segundo Joaquim Pinheiro, no fundo do instrumento, embaixo da tampa, foi colado um papel e nele consta: “Adquirido pelo Pe. Cícero em Roma – Itália 1898. Of. a Antônio Machado em 26/03/1929 – Ceará – Juazeiro”.
     Antônio Machado tinha grande amor pelo violino, mas cedeu-o gratuitamente ao músico Paulino Galvão que passava uma temporada em Fortaleza. Indo morar no Rio de Janeiro, Paulino Galvão foi colega de orquestra do violinista cratense Virgílio Arraes, um “spalla” da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ambos tocaram em outras orquestras e trabalharam juntos em muitas ocasiões, inclusive em gravações de cantores famosos brasileiros. Paulino Galvão requereu sua aposentadoria e mudou-se para uma cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, deixando de tocar profissionalmente. Uma curiosidade: apesar de raro e do valor incalculável, o violino jamais foi comercializado, após chegar ao Brasil. Por isso passou, sucessivamente, de mãos em mãos, sempre a título de presente ou doação.

Nas mãos de Virgílio Arraes
       Passados alguns anos, Virgílio Arraes resolveu visitar Paulino Galvão na cidade onde estava morando e manifestou desejo de adquirir o violino que pertencera ao Padre Cícero. O músico aposentado respondeu que o instrumento era valioso demais para ser vendido e por esta razão não o venderia. Mas, na hora da despedida, pediu para o visitante aguardar um pouco. Voltou ao interior da casa e retornou com o instrumento raro, e o entregou a Virgílio Arraes, dizendo que era presente. Apenas pediu que cuidasse bem dele.
    Depois disso, o violino do Padre Cícero, foi presenteado a várias pessoas. Nunca foi vendido. E ainda hoje está bem guardado e bem conservado. Dias atrás, Joaquim Pinheiro me deu a notícia de que – mantendo a tradição – o violino mais uma vez trocou de mãos. Ele foi doado, por Virgílio Arraes, a uma profissional da música erudita, no caso a Professora Yeldes Machado, que vem a ser descendente do tabelião Antônio Teófilo Machado (Machadinho).

Saiba mais sobre Virgílio Arraes Filho 

  Damos a palavra a Joaquim Pinheiro: “O ex-proprietário do violino do Padre Cícero, Virgílio Arraes Filho, merece comentário à parte. Nascido no Crato, filho de Virgílio Arraes e de Marcionilia de Alencar Arraes, surpreendeu sua mãe quando, aos oito anos, afinou e tocou o bandolim a ela pertencente, sem nunca ter tido uma única aula de música. Diante do prodígio, seus pais procuraram o maestro da banda municipal para que lhe transmitisse noções da 1ª arte. 
      Ainda criança, ouviu uma música no rádio e sentiu-se atraído pelo som do violino, que jamais havia visto. Comunicou aos pais que não queria mais tocar bandolim e sim violino. “Seu” Virgílio (proprietário da primeira sorveteria do Crato – Sorveteria Brasil - e ex-prefeito de Campos Sales, onde nasceu) mandou buscar o instrumento no Rio de Janeiro. Resolvido um problema, surgiu outro: não havia professor no Cariri. A família mudou-se para Fortaleza. Os mestres da capital cearense perceberam o enorme talento do aluno e aconselharam o aluno brilhante ir estudar na então capital brasileira, o Rio de Janeiro.
      No Rio de Janeiro a carreira foi meteórica: primeiro lugar no vestibular na escola de música da UFRJ (1953), primeiro colocado no concurso público para a orquestra do Teatro Municipal, onde foi o primeiro violonista (“Spalla”) durante muitos anos. Músico da Orquestra Sinfônica Brasileira, da orquestra da TV Globo e muitos outros feitos. Único músico a tocar no cinquentenário (1959) e centenário do Teatro Municipal do RJ. Em seu currículo constam performances nos mais importantes palcos do mundo, inclusive com a orquestra do Royal Ballet de Londres, onde foi aplaudido pela realeza Inglesa e recebeu cumprimentos pessoais da princesa Anne, filha da Rainha Elizabeth II.
      Participou de gravações com consagrados nomes da MPB, como Roberto Carlos, Chico Buarque de Holanda, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Simone, Fagner, Djavan, Dalva de Oliveira, Orlando Silva e muitos outros”.

  Mestres da Cultura do Cariri

   Dos onze Mestres da Cultura, selecionados recentemente pela Secretaria de Cultura do Ceará, 6 (seis) são do Cariri. A conferir. De Juazeiro do Norte: Mestre de Reisado Antônio, Mestre de Banda Cabaçal Expedito Caboco e Siará, Mestre Cabaceiro. De Crato: Mestre de Luxeria em Lixo Reciclável Aécio de Zaíra e o Mestre em Dança de Coco Dona Edite do Coco. Da cidade Aurora foi selecionado o Mestre em Esculturas Gil D’Aurora, que também fabrica rabecas. Eles são chamados de “tesouro vivo da cultura popular cearense”.

O que são os Mestres da Cultura
   Anualmente, a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) seleciona e diploma pessoas, grupos ou comunidades que realizam com maestria o delicado trabalho de preservar as tradições culturais que nasceram e se firmaram de forma espontânea no nosso Estado. Eles são chamados de “Mestres da Cultura”. Entre as dezenas de mestres que existem nas cidades e comunidades cearenses, a Secult realiza uma seleção via edital desde o ano de 2004, quando este programa foi criado pelo ex-governador Lúcio Alcântara. Os escolhidos para o título de Mestre da Cultura recebem do Estado auxílio vitalício de um salário-mínimo por mês.

Um “Mestre da Cultura” de Barbalha
 "Seu" Jaime
 Jaime Arnaldo Rodrigues, “Seu” Jaime, 76 anos, possui um fábrica de mosaicos na cidade de Barbalha. Hoje, as novas gerações só conhecem os revestimentos de pisos feitos com ladrilho-cerâmico industrializado. Mas, até a década 70 do século passado, os pisos no Cariri eram revestidos com mosaicos artesanais. Existiam muitas fábricas de mosaicos no Cariri. Todas desaparecem com a chegada do piso-cerâmico. O artesão Jaime Arnaldo Rodrigues passou mais de 40 anos produzindo – na cidade de Barbalha – mosaicos artesanais. E voltou a fabricá-los há poucos anos. Por isso recebeu o título de “Mestre da Cultura” da Secult-Ceará.

Por que o mosaico tem valor?

                                                     Mosaicos fabricados em Barbalha

     Alguns leitores podem perguntar: e qual a importância artística do mosaico?. Embora não seja mais fabricado, o mosaico, além de ecológico, possui valor artístico e histórico que merece preservação. Trata-se de um ladrilho, feito de placa de cimento, areia, pó de mármore e pigmentos com superfície de textura lisa. O mosaico é um dos traços da cultura do Cariri que nos liga forte e imediatamente à península ibérica e seus valores não apenas europeus, mas fortemente orientais, via universo moçárabe. O mosaico vem do processo de fabricação onde a cura se dá na água, sem qualquer processo de queima, que agrida o meio ambiente. Além do mais, o mosaico possui alta resistência ao desgaste. 
     Tem um formato quadrado, de 20 x 20 cm, com acabamento liso e cores firmes, além de ser um produto artesanal, hoje raríssimo. Dai a importância de se preservar a produção do mosaico na cidade de Barbalha. O antigo Palácio Episcopal Bom Pastor, residência dos bispos de Crato, ainda conserva pisos de diversos desenhos de mosaicos, fabricados pelo escultor italiano Agostinho Balmes Odísio, que residiu em Juazeiro do Norte entre 1934 a 1940.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Cariri, poderá virar Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco
 Sede da Fundação Casa Grande, em Nova Olinda

   Próximo mês de junho acontecerá, na Fundação Casa Grande – na cidade de Nova Olinda – o “Seminário Internacional de Patrimônio Cultural Imaterial na Chapada do Araripe”.  Trata-se evento destinado ao reconhecimento, pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), do Cariri cearense – mais precisamente a Chapada do Araripe e seu entorno – como Patrimônio Cultural Imaterial do povo brasileiro. Além da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), Fundação Casa Grande, SESC e as universidades da região (URCA e UFCA) compõem o grupo realizador desse evento.
      Para Alemberg Quindins, presidente da Fundação Casa Grande de Nova Olinda: “Estamos tendo um cenário aonde o Cariri e o Ceará vivem hoje um bom momento entre as políticas culturais e avanços na Cultura Popular. O Cariri é um território mágico, mitológico, paleontológico, arqueológico. Ele une quatro estados brasileiros e atende importantes critérios da Unesco como patrimônio mundial: integridade, autenticidade e universalidade”.
        Já Fabiano Píuba, Secretário da Cultura do Ceará, ratificou: “Pensar em patrimônio cultural para o Cariri tem que estar associado ao patrimônio natural. O Cariri e sua Chapada do Araripe é um território profundamente marcado pela cultura popular e tradicional, ambiente de expressões e manifestações riquíssimas; ao tempo que hoje se tornou um polo acadêmico com uma rede de universidades públicas e privadas, tendo a URCA e a UFCA como as principais instituições; além de ser uma zona de desenvolvimento econômico em pleno crescimento e ser um destino turístico dos mais procurados no Brasil, seja por seus aspectos culturais e ambientais”. 

Um exemplo que vem de Londres
    Há 153 anos teve início, em Londres, um projeto de colocação de pequenas placas redondas, na cor azul, em algumas fachadas de casas daquela cidade. Essas placas esféricas preservam o legado de pessoas que nasceram ou viveram em Londres, e que – de alguma forma –deixaram sua marca na história daquela cidade. Antes de ser colocada a placa, a sugestão passa por um critério rigoroso. Aliás, as placas só são colocadas após 20 anos da morte do nomeado, ou se já tiver passado 100 anos do seu nascimento. Que bom exemplo para as cidades caririenses preservarem sua memória.
      Na foto uma das "placas azuis" existentes em Londres. Esta assinala o prédio no qual morou, durante certo tempo, Mahatma Gandhi, o homem que conseguiu libertar a Índia do domínio inglês.

O desprezo pela memória do Cariri
 Bangalô aristocrático que existiu em Juazeiro do Norte

   Vem de longe a destruição da memória (arquitetônica, histórica e de reminiscências) da região do Cariri. Crato e Juazeiro do Norte destruíram o seu patrimônio arquitetônico. Barbalha foi a única cidade do Cariri a cuidar dos antigos casarões.  Infelizmente, a destruição da memória ocorre de forma mais intensa em Juazeiro do Norte, a maior cidade do Cariri. Se fosse adotado, em Juazeiro, o projeto das placas azuis, que existe em Londres, não teríamos mais os locais para colocar placas homenageando pessoas como Amália Xavier de Oliveira, Padre Climério, Mestre Noza, Mons. Juviniano Barreto, Mauro Sampaio, Mons. Murilo de Sá Barreto e tantos outros que foram importantes, em certas épocas,  para a vida de Juazeiro.
      Tempos atrás, o jornalista Jurandy Temóteo escreveu o texto abaixo na revista “A Província”: “As más administrações públicas, a falsa ideia de modernismo, a ganância financeira, a indiferença de considerável parcela da nossa população e a impunidade estão fazendo do Crato uma terra sem memória arquitetônica.

“Prédios públicos e particulares, de inestimáveis valores históricos e arquitetônicos continuam sendo destruídos ou mutilados sem que providências realmente sérias e eficazes se concretizem. Que “Cidade da Cultura”, que “Município Modelo” é este que extermina seus valores culturais, mutila suas ruas, praças, monumentos? O que se tem feito e se continua a fazer contra Crato é um crime, uma barbárie. Até quando?”.

 Vinho “Terras do Crato”
   
No último dia 15 de maio eu me encontrava na cidade de Fátima (Portugal) e entrei num restaurante (“O Recinto”) para almoçar. 
    Ao lado da minha mesa tinha uma prateleira expondo bons vinhos portugueses. Entre eles, havia o tinto “Terras do Crato”, fabricado no Crato português, cidade localizada na região do Alentejo. A uma pergunta sobre as características do vinho “Terras do Crato”, o funcionário do restaurante, no conhecido sotaque português explicou: “Trata-se de vinha na cor rubi, com aroma de notas de fruto vermelho maduro, complexo e intenso. Paladar equilibrado, taninos suaves e boa persistência. Vais a querer?” 
     O preço da garrafa era elevado. Desisti. Mas fica registrado,   para mostrar aos habitantes do Crato brasileiro, que o pequenino Crato do Alentejo português (com menos de quatro mil habitantes), produz excelentes vinhos.







Maria Caboré
    Ainda hoje presente no imaginário do povo de Crato, Maria Caboré, é tida como “santa” nas camadas mais simples da população cratense, 83 anos depois da morte dela.  Muita gente pede graças à alma de Maria Caboré e – alcançado o pedido – manda celebrar missas para ela. Recentemente, o advogado de Fortaleza, Geraldo Duarte, articulista do “Diário do Nordeste” publicou – naquele jornal – uma interessante crônica sobre Maria Caboré, que republicamos abaixo na íntegra.  A conferir:

 “Espírito de anjo ornado em trapos
Túmulo de Maria Caboré ,no Cemitério Nossa Senhora da Piedade, em Crato

   
 "Este, o verso primeiro de poesia do Padre Raimundo Augusto, completado com “Perambulando pela rua ao léu, / Companheira fiel até dos sapos, / Ela tinha por lar o azul do céu.” (quadra inicial do poema “Maria Caboré”, ode daquele pároco dedicado ao, talvez, mais querido personagem do Crato das décadas de 20 e 30 do século passado, publicado na revista Itaytera. Filha de Caboré, coveiro, e Calumbi, roceira, moradores do distrito Matinha, Cícera Maria da Silva Almeida os viu morrer precocemente. Aluou-se. Deu-se a perambular na terra-natal do Padre Cícero e ganhou a apelidação de Maria Caboré.
    "Morena, estatura mediana, utilizava uma espécie de turbante e adornada de miçangas. Na Rua da Vala, hoje Tristão Gonçalves, onde mais vivia, supria as casas com água, retirava o lixo, servia de recadeira e, em troca, ganhava alimentação, roupas usadas e alguns trocados. Suas ética e lealdade, a toda prova, mereciam o respeito e a estima de todos. Honestidade e boa índole a complementavam.
   No mundo ilusório era noiva do “Rei do Congo”, a quem sempre dedicou fidelidade. Dizia-se católica, frequentava a Igreja e confessava-se. Certa feita, notou que o sacerdote vestia calça sob a batina. Surpresa, declarou nas andanças: “Vige Maria, padre é homi!”. Encontrou um feto num dos entulhos daquela artéria. Levou-o à delegacia, entretanto, não envolvendo ninguém, alegou haver esquecido o local.
    "Vítima da peste bubônica que, em 1936, afligiu a cidade, foi interna no hospital improvisado no Seminário Diocesano São José, quando “faleceu piedosamente com a morte exemplar de um justo”, asseverou Padre Augusto. Para muitos cratenses e, até, nascidos noutras localidades caririenses, Maria Caboré é considerada espírito milagreiro deveras evocado. Seu túmulo, no Cemitério N. S. da Piedade, possui visitação frequente durante o ano, destacando-se no Dia de Finados”.

sábado, 27 de abril de 2019

Quando  Crato era a “Capital da Cultura” do Cariri
Sede própria do Instituto Cultural do Cariri--ICC, localizada em frente ao Parque de Exposição de Crato. Uma instituição pujante nos dias atuais.

      As novas gerações desconhecem o fato. Mas Crato e Juazeiro do Norte mantiveram–até os anos 1980 – acérrima rivalidade. Em 1953, foi fundado em Crato o Instituto Cultural do Cariri (ICC), o qual, além de suas finalidades culturais, seria uma resposta da comunidade cratense, ao crescente crescimento econômico de Juazeiro. Vendia-se, assim a imagem de que Crato se constituía num polo de destaque e civilizador da região no setor cultural. Crato passou a ser chamado eufemisticamente “A Capital da Cultura do Cariri”. Somente em 1974, Juazeiro do Norte criou o seu o Instituto Cultural do Vale Caririense (ICVC) hoje em franca atividade. 
     Na monografia de mestrado da ex-reitora da URCA, Antônia Otonite de Oliveira Cortez, ela comentou assim este assunto: “Superando o poder econômico do Crato na região e constituindo um forte poder de barganha política junto aos governos estadual e federal, Juazeiro elaborou para si os adjetivos de “Cidade da Fé e do Trabalho”, “Metrópole Econômica”, mas nunca pôde ser adjetivada de cidade civilizada ou culta. Esses foram atributos do Crato, estratégias discursivas com as quais os “especialistas da produção cultural” passaram a defender, conscientemente, a superioridade do Crato na região, à medida que Juazeiro a superava no plano econômico e político”

Um marco no desenvolvimento do Cariri: a chegada da energia da CHESF

Acima, alguns caririenses que lutaram pela eletrificação do sul-cearense   

Como surgiu a ideia para a eletrificação do Cariri, pelo sistema da CHESF– Companhia Hidroelétrica do São Francisco? O jornalista cratense José Jézer de Oliveira escreveu no jornalzinho da Casa do Ceará em Brasília: “Tudo teve início quando, no ano de 1949, o professor José Colombo de Sousa, à frente de um grupo de concludentes do curso de Administração e Economia, de Fortaleza, visitou as instalações da usina hidrelétrica do São Francisco. Ali, surpreendentemente, constatou que a região do Cariri, pela sua localização geográfica, estaria inclusa no raio de ação da CHESF, para efeito de receber a energia a ser por ela gerada. Ao retornar à Fortaleza, Colombo de Sousa, através de entrevista ao jornal O POVO, deu a conhecer o fato, ao que se supõe ainda não do conhecimento das autoridades governamentais do Ceará”.

Crato adere à proposta de Colombo de Sousa
   Em face da repercussão da entrevista, Colombo de Sousa foi convidado pelo Rotary do Crato a proferir palestra sobre o tema. Sua fala foi o “pontapé” inicial da aguerrida campanha em favor da eletrificação do Cariri. Essa campanha mobilizaria as classes mais representativas da sociedade caririense, principalmente das cidades de Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte. Em Crato, a primeira manifestação para a eletrificação do Cariri ocorreu, como se observa, em 1949. 

Juazeiro do Norte fortalece o movimento
Rua São Pedro, centro de Juazeiro do Norte, início da década 1960

     Em reunião na sede do “Clube dos Doze”, em Juazeiro, também com a presença de Colombo de Sousa, fundou-se o Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, que tinha como Presidente o médico Hildegardo Belém de Figueiredo, residente em Juazeiro. O comitê era integrado por representantes de Crato e Barbalha. O objetivo desse comitê era dar suporte ao trabalho do professor Colombo de Sousa, junto às autoridades federais e à Diretoria da CHESF. Colombo de Sousa (que depois seria eleito deputado federal pelo Ceará) já gozava de prestigio político no Rio de Janeiro, então Capital do Brasil.
     Colombo de Sousa viajou para a então capital brasileira, acompanhado dos membros do Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, e lá foram recebidos, no Palácio do Catete, pelo Presidente da República, Getúlio Vargas. Anos depois, pela segunda vez, esses membros do comitê tiveram audiência com o então Presidente Juscelino Kubitschek, o qual manifestou apoio ao Programa de Eletrificação do Cariri. Na audiência com Juscelino, Colombo de Sousa já estava investido do cargo de Deputado Federal pelo Ceará e tinha sido o autor da maioria das emendas ao orçamento, garantindo dos recursos da União para a concretização do grande sonho dos caririenses.

Enfim o Cariri foi eletrificado
     Dentro das comemorações pelo cinquentenário da criação do município de Juazeiro do Norte, em 1961, ocorreu a inauguração da energia de Paulo Afonso no Cariri. Era o dia 28 de dezembro de 1961, e a festa foi realizada em praça pública, na Terra do Padre Cícero.  O primeiro poste foi fincado na então entrada de Juazeiro, onde hoje funciona o supermercado Hiper Bom Preço, na Av. Padre Cícero. Crato, Juazeiro e Barbalha foram às primeiras cidades do Ceará a receberem energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco. No Cariri, para distribuição da energia fornecida pela CHESF, foi criada a Companhia de Eletricidade do Cariri (CELCA), empresa de economia mista, subsidiária da Sudene, mas com a participação acionária da própria CHESF, Prefeituras Municipais da região e, em escala bem menor, de particulares. A sede da CELCA ficava na cidade de Juazeiro do Norte. De lá para cá, Juazeiro só fez crescer em todos os sentidos.

Há 80 anos Salesianos chegavam a Juazeiro do Norte
                          Colégio Salesiano Padre Cícero, em Juazeiro, nos dias atuais

     A data passou em branco. Mas é importante deixar registrado que há 80 anos, no dia 31 de março de 1939, a Congregação dos Padres Salesianos chegava a Juazeiro do Norte. Anos atrás, o site Miséria registrou como foram os primeiros dias das atividades dos padres salesianos na Terra do Padre Cícero. Consta na longa matéria do site Miséria os tópicos abaixo:
 “(...) Dois meses após a acolhida, na prática a gente juazeirense mostrou que mais que acolhedora era também solidária. Em 12 de maio sociedade e comércio juazeirense se cotizaram doando em dinheiro vivo a importância de $60.000,00 (Sessenta contos de réis) para que os Salesianos iniciassem imediatamente a construção do sonhado colégio pelo Padre Cícero”.

 Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no bairro Salesianos em Juazeiro

  “Já para construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a Prefeitura de Juazeiro do Norte efetuou doação do amplo terreno onde existia antes a Praça Pio XII. Lembrou o Padre César Casseta (um dos párocos salesianos que passaram por Juazeiro) que:  “A bênção da pedra fundamental da Igreja, segundo nossos arquivos, data de 1955 e contou com a ilustre presença do Padre Renato Ziggiotti, 5º sucessor de Dom Bosco”.  Foram 20 anos entre e o lançamento da pedra fundamental e a inauguração do suntuoso templo”.

 “O Colégio Salesiano Padre Cícero tornou-se uma referência de ensino em toda a região do Cariri. Em 07 de maio de 1978, a comunidade católica juazeirense ganhava o atual Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Na Igreja, à entrada, consta uma placa: “Padre Cícero Romão Batista, os Salesianos atenderam ao seu pedido. Tenha sua alma tranquila no Céu”.

Já a criação da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, pela Diocese de Crato, data de 1975, durante o episcopado de Dom Vicente de Paulo Araújo Matos. O bairro -- onde fica o colégio e a igreja-matriz -- hoje se chama Salesianos. Os diversos párocos que por ali passaram, desde 1978 aos dias atuais, construíram várias capelas na vasta área da paróquia. Duas dessas capelas viraram, posteriormente, novas “Igrejas- matriz” das novas Paróquias de São João Bosco e a de Nossa Senhora Auxiliadora. Outras bonitas capelas, frutos da ação dos padres salesianos, foram construídas e dedicadas a São Domingos Sávio, Nossa Senhora de Fátima, Santa Teresinha. Todas, espalhadas pelos bairros citadinos de Juazeiro do Norte.

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