quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

História do Cariri: 2 episódios ocorridos no século 19

 1 – A Revolução Pernambucana de 1817
        Qual a postura das famílias caririenses na época do Brasil-Colônia? Os clãs viviam sob a forte influência da Igreja católica. Isso, certamente, teve influência para o fracasso dos revolucionários republicanos de Pernambuco de 1817 na sua investida no Sul do Ceará. Os revolucionários de Recife enviaram ao Cariri o subdiácono José Martiniano de Alencar, filho desta região, para levantar o povo contra a Família Real que residia no Rio de Janeiro, sob a liderança do Rei de Portugal, Brasil e Algarves, Dom João VI.

        Aqui chegando, o seminarista Alencar procurou logo a mais importante liderança desta região, o fidalgo e grande proprietário rural Leandro Bezerra Monteiro, à época Comandante do Regimento de Cavalaria de Milícias de Crato. José Martiniano acenou para Leandro  com vantagens para este aderir à Revolução. Sobre Leandro Bezerra Monteiro, assim se referiu Gustavo Barroso literalmente: “Homem equilibrado e sensato, nunca deixou de ser fator ponderável de equilíbrio social, naturalmente defendendo o que se chamava conservadorismo”. Não contava, pois, o jovem seminarista Alencar deparar-se com a solidez dos princípios religiosos e a lealdade que o Comandante das Milícias de Crato sempre tivera para com a Monarquia e a Dinastia dos Bragança. 
         Em resumo, assim descreveu o historiador Joaquim Dias da Rocha sobre o final da visita de abordagem feita pelo seminarista José Martiniano de Alencar a Leandro Bezerra Monteiro, numa das propriedades rurais deste último:
“O entusiasta propagandista esgotou em pura perda o arsenal de argumentos que trazia aparelhados; e desanimou quando, afinal, se resumiu o velho monarquista:

–“Padre José – disse Leandro Bezerra – é ainda cedo para a nossa emancipação; quanto à república, ela me terá sempre como acérrimo inimigo".
Revolução Pernambucana de 1817 em Crato. No Cariri o movimento foi feito pela família Alencar e seus agregados

2 – A Guerra do Pinto
Casa existente em 1834, na Praça da Sé, em Crato, onde foi julgado e condenado à força o Coronel Pinto Madeira. A sentença foi comutada, depois,  para fuzilamento do réu. Parte desta casa ainda existe,  na esquina da Praça da Sé com Rua Dom Quintino.

       Abordemos, agora, outro episódio da nossa histórica. Em 1832, o Cariri seria sacudido por outro movimento, desta feita liderado por Joaquim Pinto Madeira, que era, à época, o Capitão de Ordenanças e Coronel de Milícias de Crato, o qual, no auge do seu prestígio, era chamado – pelo povo – de Governador do Centro do Ceará. Isso porque a influência de Pinto Madeira se espalhava desde  a cidade de Quixeramobim, no Sertão Central até as terras do Cariri, numa distância de quase 400 Km.  Afeiçoado por índole às coisas da Monarquia e à Dinastia dos Bragança, Pinto Madeira lutou ativamente contra os que promoveram os movimentos republicanos da Revolução Pernambucana, em 1817 e da Confederação do Equador, em 1824.  A esse respeito assim escreveu o historiador Irineu Pinheiro: “Nunca perdoaram os Alencares e os liberais cratenses a ação de Joaquim Pinto Madeira naquelas duas agitadas fases da nossa história”. 
      Pois bem, quando Dom Pedro I renunciou ao trono brasileiro, em 1831, Pinto Madeira não se conformou, pois acreditava, erroneamente, que o gesto do nosso primeiro imperador teria sido forçado a isso pelos liberais. Pinto Madeira pegou em armas, invadindo várias cidades do Sul do Ceará, com o objetivo de permitir a continuidade do Reinado de Dom Pedro I. No entanto, os tempos eram outros, bem diferentes de 1817 e 1824. Estávamos já na época das Regências que governaram o Brasil até a maioridade do Imperador Pedro II. E o governador do Ceará não era outro, senão o Padre José Martiniano de Alencar, aquele antigo seminarista revolucionário de 1817, inimigo de Pinto Madeira. Em resumo: tudo terminou com o fuzilamento de Pinto Madeira, fato ocorrido em 1834, na cidade de Crato. 
      Quando a primeira saraivada de bala o abateu, Pinto Madeira ainda teve forças para gritar:

    – Valha-me o Santíssimo Sacramento.
   Passou à história do Ceará como “O Mártir da Monarquia”.
Em 1834, o Presidente da Provincia do Ceará Grande era o Padre José Martiniano de Alencar, o antigo seminarista que fez a Revolução de 1817 em Crato.

 Irmã Annete, Doutora Honoris Causa da URCA
     Neste dia 1º de fevereiro, às 15 horas, tendo como local o Círculo Operário São José de Juazeiro do Norte, Irmã Annette Dumoulin receberá – da Universidade Regional do Cariri-URCA –, o título de Doutora Honoris Causa, que lhe foi concedido por aquela instituição. Nascida em Liége, no Reino da Bélgica, em 14 de julho de 1935, Annette Dumoulin viveu parte de sua primeira infância no seu país de origem. No entanto, por causa da Segunda Guerra Mundial, sua família teve de emigrar para o Sul da França, onde seu pai – que era médico –prestava assistência às vítimas do conflito que atingiu praticamente toda a Europa.
       Ainda jovem, ela se sentiu atraída pela vida religiosa, sendo admitida na Congregação de Nossa Senhora (mais conhecida como Cônegas de Santo Agostinho). Consta no seu face book que: “Em 1955, a jovem Annette formou em educação física na Bélgica e em 1958 graduou-se em Ciência da Religião pela Universidade Católica de Louvain, seguida também da formação em Psicologia da Religião, obtendo os títulos de mestre e doutora em Ciência da Educação com especialidade em Psicologia da Religião pela mesma Universidade Católica de Louvain”.
      Transferida para o Brasil, Annette Dumoulin reside há 45 anos em Juazeiro do Norte, sendo hoje a maior conhecedora das histórias das romarias do Padre Cícero. E foi ao ‘Padim” que ela dedicou a maior parte da vida e todo o seu talento intelectual e vocação humanitária. “Eu deixei Pai e deixei Mãe. Deixei todos os meus Irmãos. E cheguei no Juazeiro, para servir ao romeiro.” Afirmou Irmã Annette. Sua voz marcante se tornou referência na Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, durante as romarias ao Padre Cícero. 
       Já escreveu alguns livros sobre o Padre Cícero e o fenômeno das romarias. Mereceu com justiça o reconhecimento do seu trabalho concretizado com a concessão do título de Doutora Honoris Causa, que lhe foi concedido pela URCA.

Número especial da revista Itaytera
        No próximo dia 13 de abril será lançado o primeiro número especial da revista “Itaytera”, órgão do Instituto Cultural do Cariri, que tem sede em Crato. Esta edição abrirá a série de “números especiais” que serão editados – a partir de agora – juntamente com as edições normais de “Itaytera”.
          O número 1 especial de Itaytera, homenageará o professor José do Vale Arraes Feitosa por ocasião do centenário de nascimento deste mestre. José do Vale  lecionou, durante décadas, em educandários cratenses, dentre os quais: Colégio Diocesano de Crato, Colégio Estadual Wilson Gonçalves, Escola Agro-Técnica Federal de Crato, Ginásio Municipal Pedro Felício Cavalcanti.  
           Nascido no sertão dos Inhamuns, em 11 de abril de 1919, a fecunda vida do Prof. “Zé do Vale” – como era mais conhecido – iniciada no primeiro quartel do século XX e findada praticamente no final desse mesmo século, muito significou para a comunidade cratense e para sua família. José do Vale Arraes Feitosa foi um homem dotado de virtudes e qualidades, de marcante personalidade e de nobreza, no trato com seus semelhantes. Em 1968, José do Vale obteve graduação em Letras, pela antiga Faculdade de Filosofia de Crato, embrião da atual Universidade Regional do Cariri–URCA. Ele frequentou os bancos do ensino superior, apenas para oficializar o título. Não precisava dele. Nunca precisou. Mais do que um autodidata, José do Vale foi um “professor-aluno” daquela Faculdade, onde recebia o respeito tanto dos mestres como dos colegas.
No bairro Nossa Senhora de Fátima (antigo Barro Branco) ergue-se uma das maiores escolas de Crato, denominada Escola Professor José do Vale Arraes Feitosa


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