quarta-feira, 12 de setembro de 2018

 A primeira romaria feita a Juazeiro do Norte
      Capela de Nossa Senhora das Dores, da povoação de Joaseiro, onde em 1889 ocorreu o fenômeno do sangue na boca da Beata Maria de Araújo
     Em 6 de março de 1889, ocorreu um fato inusitado. Uma hóstia consagrada, dada em comunhão (pelo Pe.Cícero) à Maria de Araújo, transformou-se  em sangue na boca da Beata. A notícia correu – como um rastilho de pólvora – pelo interior nordestino.   Quatro meses depois do acontecido – num domingo, 7 de julho daquele ano –  aconteceu a primeira romaria feita a Juazeiro do Norte. Ela foi planejada e partiu de... Crato!
     Milhares de cratenses, sob a orientação do Mons. Francisco Rodrigues Monteiro, seguiram a pé de Crato até à “povoação do Joaseiro”.
   Amália Xavier de Oliveira, no seu livro “O Padre Cícero que eu conheci” descreveu aquela romaria. A conferir. “Do púlpito da Capela e Nossa Senhora das Dores de Juazeiro, povoação de Crato, (Mons. Monteiro) divulgou, oficialmente, perante mais de 3 mil pessoas os fatos extraordinários que se passavam ali, afirmando aos presentes, que o sangue verificado por todos, naquelas toalhas por ele apresentadas, era o próprio sangue de Jesus Cristo, arrancando dos presentes, copiosas lágrimas” E acrescentou:  "Se um dia eu negar o que vi que me falte e a luz dos olhos”.
    Anos depois, Mons. Monteiro, pressionado pelo Bispo do Ceará, Dom Joaquim Vieira, voltou atrás naquelas suas palavras, proferidas em Juazeiro. Amália Xavier de Oliveira concluiu assim seu escrito: “Mas, sem a luz dos seus olhos (Mons. Monteiro tinha cegado devido à catarata), veio ele muitas vezes a Juazeiro onde passava semanas e mais semanas, hóspede do Pe. Cícero, em casa da sua irmã Angélica, sob os cuidados de Giluca, uma Beata da família Pinheiro Monteiro que ali residia”.

Onde anda o “Projeto do Cariri”?
     Iniciado em 2002, o “Projeto Cariri” é fruto de um “Termo de Cooperação Técnica e Cientifica”, celebrado entre o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a URCA (Universidade Regional do Cariri). 
       Seu principal objetivo é a realização de estudos e registros do patrimônio imaterial do Cariri. O “Projeto Cariri” previa a implantação, em Juazeiro do Norte, do “Roteiro da Fé” (no percurso Basílica Menor de N.S. das Dores/Capela do Socorro/Colina do Horto/Santo Sepulcro). Previa, também, a divulgação das formas de Expressão, Saberes e Fazeres do Cariri, com destaque para a Festa do Pau da Bandeira de Barbalha; as tradições populares (bandas cabaçais, grupos folclóricos, escultores e santeiros de Juazeiro do Norte); a divulgação do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, dentre outras metas.
    No tempo em que o Prof. André Herzog foi reitor da URCA existia até um escritório do “Projeto Cariri” nas dependências daquela universidade. Depois do término da administração de André de Herzog, nunca mais se ouviu falar no “Projeto Cariri”. Será que ainda existe?

Uma preciosidade da riqueza do patrimônio histórico-religioso do Cariri
     Imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, venerada em Juazeiro do Norte a partir de 1827, ano de inauguração da capelinha construída pelo Brigadeiro Leandro
     Adquirida em Portugal, pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, a pequena imagem de Nossa Senhora das Dores foi venerada na capela primitiva da Fazenda Tabuleiro Grande, a partir de 1827. Tornou-se, desde aquela data, a Rainha e Padroeira da povoação do “Joaseiro”. A imagem primitiva (chamada antigamente pelo povo de “Carita”), recebeu a devoção dos juazeirenses durante 60 anos. Zélia Pinheiro, autora do opúsculo "Sesquicentenário de Fé", registra que a imagenzinha pontificou no altar das duas capelas de Juazeiro até 1887. Bom lembrar que em 19 de agosto de 1884, foi consagrada a nova capela, ampla e bonita – construída Pelo Padre Cícero –  que substituiu a primitiva, esta edificada pelo Brigadeiro Leandro. 
     Assim escreveu Zélia Pinheiro: (Até 1887) “Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores (a “Carita”) e fora colocada no Altar (da nova igreja) a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887. Naquele ano, a imagem antiga foi trocada pela nova, adquirida na França, que até hoje está lá”.
        A imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, que tem 191 anos, ainda existe,  em perfeito estado de conservação.

Escritores do Cariri: Padre Azarias Sobreira
      Azarias Sobreira Lobo nasceu no dia 24 de março de 1894, no então Sítio Timbaúba (hoje um bairro citadino) em Juazeiro do Norte. Nasceu no mesmo dia em que seu padrinho de batismo –  Padre Cícero Romão Batista –  completava 50 anos de idade. Era filho de um cratense – Pedro Lobo de Menezes, descendente do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro – e da professora juazeirense Carolina Sobreira. 
    Desde criança pensava em ser sacerdote. Ele foi o primeiro juazeirense a ser ordenado padre na então mais nova Diocese do Ceará, a de Crato, com 22 anos de idade, em 22 de abril de 1917.
    Pe. Azaria foi um exemplar sacerdote. Muito culto, era filósofo, educador, professor e escritor. Dedicou-se, especialmente, ao trabalho de ampla pesquisa e profunda análise sobre o Padre Cícero. Próximo da sua morte, escreveu: “Se, neste meu ablativo de vida, me perguntasse qual a marca que me parece mais saliente em meu espírito, eu não teria medo em responder: uma inata tendência para admirar. Não propriamente os que fizeram fortuna ou conseguiram altas posições sociais, e sim os que se impuseram pela coragem das convicções, pelo domínio de seus apetites desordenados, pela compaixão para com os injustiçados e oprimidos. ”
    Escreveu e publicou dezenas de trabalhos, artigos e alguns livros. Dentre suas obras podemos destacar os seguintes livros: "O Primeiro Bispo do Crato–Dom Quintino", "Tipos e Sugestões", "Monsenhor Tabosa, Apóstolo do Ceará", "Mensagem aos Protestantes", "Minha Árvore de Família", "Zuca Sampaio, um sertanejo de escol", "José Marrocos– Em Defesa de Um Abolicionista", "Uma Flor do Clero Cearense", "Enigma de Ontem e de Hoje", "Pontos de Português", "Sacerdote Modelo" e "O Patriarca de Juazeiro", sua obra-prima, publicada em 1969. Faleceu em Fortaleza, no dia 14 de junho de 1974.

Cariri vai produzir energia eólica
     A nota abaixo foi publicada na coluna de Egídio Serpa (“Diário do Nordeste”, 06-09-2018): “Em maio, a Cemig fez um leilão para a compra de energia. O grupo francês Quaran ganhou o leilão, que incluiu os projetos desenvolvidos pela Cortez Engenharia e a Braselco, com capacidade de 240 MW de geração eólica. Os parques serão instalados no Cariri e neles serão investidos R$ 1 bilhão.
       A Quadran, maior empresa francesa do setor, terá a parceria da dinamarquesa Vestas, cuja fábrica de Aquiraz será ampliada para produzir os novos aerogeraores de 4,2 MW. A implantação do projeto – que estará pronto em 2021 e terão o Cariri como sede – começará por Missão Velha e Porteiras, estendendo-se depois para Jardim, Barbalha e Crato”.

Crato tem o seu primeiro “arranha céu”
      Os grandes edifícios (aqueles que antigamente o povo chamava de “arranha-céu”) já são abundantes, desde algum tempo, em Juazeiro do Norte. Em Crato, segunda maior cidade da Região Metropolitana do Cariri, a construção do edifício Kariris Blue Tower, com 19 andares, está na reta final. 
       O edifício fica localizado no centro da cidade, na Rua André Cartaxo, próximo ao Mercado Municipal Walter Peixoto. O Edifício Kariris Blue Tower abrigará 205 salas, 9 lojas, salão de eventos na cobertura, dentre outras sofisticações, como um aquário ornamental no hall dos elevadores. A iniciativa privada é quem tem garantido o progresso de Crato nos últimos tempos.

Um caririense ilustre: Prof. José Bizerra de Britto
     Zuza Bizerra (assim era mais conhecido o Prof. José Bizerra de Britto) foi um dos homens de bem do Cariri. Nasceu no sítio Malhada, município de Crato, em 6 de junho de 1878. Vindo cedo para estudar na sua cidade natal, foi aluno do Prof. José Marrocos. Depois estudou no Seminário São José até o curso de Teologia. Preferiu a vida de leigo, mas chegou a ser – por longos anos – um dos professores daquele vetusto educandário católico, e outros colégios de Crato. 
    Era reconhecido como emérito educador, líder católico e jornalista. Deixou vasto trabalho, prestado a sua cidade natal, nesses 3 ramos da atividade humana. O Prof. Zuza Bizerra era uma pessoa de fino trato e dotado de honestidade a toda prova. Por isso foi homem de confiança dos dois primeiros bispos de Crato, Dom Quintino e Dom Francisco de Assis Pires. Nunca se preocupou em amealhar bens materiais, por isso sempre viveu pobre, recebendo o respeito e admiração da comunidade. 
     Foi um vocacionado ao jornalismo. Dirigiu por muito tempo os dois jornais da Diocese de Crato: ”A Região” e “A Ação”. Como rábula, exerceu a advocacia em Crato e nos municípios vizinhos. Quando do seu falecimento, o escritor J.de Figueiredo Filho publicou: “Passou a vida no Magistério e a espargir o bem, munido de inteligência privilegiada e fé inquebrantável. Só ensarilhou armas quando os anos não mais lhe permitiram trabalhar”.
   Tive o privilégio de conhecer e conviver com o Professor José Bizerra de Britto, ele na ancianidade e eu ainda menino. Morávamos próximo um do outro, na Avenida Teodorico Teles. Meu pai tinha uma profunda admiração pelo velho professor, que era reconhecido por todos como um homem de bem, um cidadão exemplar em todos os aspectos.
     Recordo-me de ter lido alhures um depoimento do fundador das universidades cearenses, o eterno e admirável Reitor Antônio Martins Filho, onde ressaltava as características do homem íntegro que foi o Professor José Bizerra de Britto. Martins Filho foi aluno do Professor Zuza, na extinta Escola Técnica de Comércio de Crato, e guardou do antigo mestre a imagem de um homem de caráter, digno, honesto, sereno, justo e caridoso.

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